Quando fui vítima de um episódio de violência de gênero, em setembro de 2019, minha vaidade foi para o ralo.
Nunca mais quis saber de usar salto alto, passar maquiagem, batom, me arrumar mesmo, sabe como?
Na psicanálise entendi que esse movimento aconteceu porque eu não queria mais chamar a atenção do olhar masculino sobre mim. E faz todo sentido: se eu for invisível, nunca mais sofreria qualquer tipo de agressão.
A psicanálise pode oferecer diversas interpretações para o comportamento de não gostar de se arrumar para não chamar atenção. Aqui estão algumas possíveis abordagens psicanalíticas para entender esse comportamento:
- Defesa contra a ansiedade social: Não gostar de chamar a atenção pode ser uma forma de evitar a ansiedade social. Para algumas pessoas, a ideia de chamar a atenção pode desencadear sentimentos de ansiedade, vergonha ou desconforto. Não se arrumar pode ser uma maneira de evitar esses sentimentos.
- Medo do julgamento: Algumas pessoas podem evitar chamar a atenção porque têm medo do julgamento dos outros. Elas podem se preocupar com o que os outros vão pensar delas e, portanto, optam por não se arrumar para evitar possíveis críticas ou rejeição.
- Autoimagem negativa: Pessoas com baixa autoestima ou uma autoimagem negativa podem evitar chamar a atenção para si mesmas, pois não se sentem confortáveis com a ideia de serem o centro das atenções. Elas podem achar que não merecem a atenção dos outros ou que não são dignas de serem notadas.
- Repressão da sexualidade: Em alguns casos, não gostar de chamar a atenção pode estar relacionado à repressão da sexualidade. A pessoa pode ter medo de despertar desejo nos outros ou de ser vista como sexualmente atraente, e por isso evita se arrumar e chamar a atenção para si mesma.
A “beleza na moda” refere-se à estética e à expressão visual presentes na indústria da moda. Isso inclui o design de roupas, acessórios, maquiagem, penteados e até mesmo a postura e a atitude dos modelos. A beleza na moda muitas vezes reflete as tendências culturais, sociais e estéticas de uma época específica.
A moda desempenha um papel importante na definição e na expressão da beleza. Ela permite que as pessoas expressem sua individualidade, criatividade e estilo pessoal. A beleza na moda não se limita apenas ao aspecto físico, mas também inclui elementos como confiança, autoexpressão e originalidade.
Foram cerca de 4 anos nessa ausência de tempero estético: vivia de tênis, roupa de academia (normalmente macaquinho do triatlhon), maiô e rasteiras no pé, estilo Birkenstock.
Acredito que passei rímel umas duas vezes durante esse período. Corretivo e pó? Nem pensar: o máximo era um protetor solar com cor. As unhas também, desencanei de fazer. Foi como se todo o livro O Mito da Beleza – que aliás, indico a leitura, tomasse vida através das minhas não-escolhas fashion.
E isso logo comigo! Eu que vivia de e para a moda…


Depois do dia do meu casamento civil – fiz até maquiagem profissional no dia, algo soprou dentro do meu espírito e me fez relembrar como era me produzir para um evento especial.
Claro, não senti desejo de ficar de salto alto o dia inteiro andando pra cima e para baixo como fazia, por exemplo, nos meus tempos de vendedora da Daslu, mas coloquei um micro salto para sair para jantar com o maridão e tomar um vinho. Ele até estranhou, perguntou se eu estava verdadeiramente confortável, e eu disse que sim. Que era daquele jeito que queria me apresentar ao mundo.
Me auto flagrei lendo revistas de moda e, apesar de considerar alguns tipos de conteúdo extremamente patéticos, me deu vontade de voltar a estar inserida nesse modelo de capitalismo, o consumo do novo – que, afinal, é o que gira a engrenagem da Moda.
Quem sabe eu não consigo achar divertida novamente uma volta no shopping?
Alguma de vocês já passou por isso? Essa inércia estética? Vontade de ficar o dia inteiro de pijama e se sentir absolutamente confortável assim?
Se puder me contar aqui, agradeço.
Sinto que essa chave pode vir a mudar em mim muito em breve. Será que consigo voltar a falar de bolsa e sapato depois de tanta dor?
À saber…
Beijocas com afeto
Sra. Helô
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