“Se você não parar de passar a mão em mim eu vou jogar essa bebida em você”
Essa foi a última frase que pronunciei antes de ser violentamente agredida na cabeça dentro do restaurante japonês Ummi Sushi, no Itaim Bibi, em São Paulo, no dia 14 de setembro de 2019.
De lá pra cá minha vida virou de cabeça pra baixo: mudei de cidade, mudei de Estado, mudei meus círculos de amizade, mudei de trabalho, mudei minha relação com alimentação, mudei meu jeito de fazer esporte… Tudo isso porque fui brutalmente “emudecida”. Tentaram, a todo custo, tirar a minha voz.
Explico: até vencer o processo criminal (fato que aconteceu apenas em setembro de 2023), fui aconselhada por meus advogados a não me expressar nas redes sociais pois tudo seria usado contra mim durante a epopéia que seguiu minha denúncia representada na 2ª Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher – Vila Clementino; SP, logo na manhã seguinte a agressão.
Postou algo sobre tristeza? “Está se fazendo de vítima”; Está feliz fazendo esporte? “Não foi tão sério assim, não te afetou em nada…”. Elocubrações que se tonaram reais na audiência e em mensagens de perfis fakes que recebi, continuamente, durante TODOS os últimos 4 anos em meus perfis sociais. Postar era um pesadelo: eu nunca sabia por onde ou quando esse “fake” iria me atacar. Por mais que eu bloqueasse, sempre o mesmo rosto com a Monalisa reaparecia e voltava a me ofender, disparando gatilhos inenarráveis.
E por que conto isso agora? Por que vocês não devem, NUNCA, aceitar que alguém passe a mão em você sem o seu consentimento. Nem no seu braço, nem no seu cabelo, muito menos da cintura para baixo.
Yasmim Brunet e Wanessa Camargo, nitidamente constrangidas diante dos constantes toques do primeiro eliminado da ‘casa mais vigiada do Brasil edição 2024’, acharam que o pior do participante foi a fala controversa a respeito das vestimentas das meninas, mas não, ele fez muito pior: ele entrou, sem permissão e sem convite, no espaço físico de cada uma.
“Bati nela porque a confundi com uma garçonete, ela estava de jeans e camiseta”, disse meu agressor à uma delegada estupefata, que imediatamente respondeu
- e por acaso pode bater em garçonete?
Não. Não pode bater, não pode tocar, não pode insistir em falar com alguém que não deseja sua companhia e muito menos sua fala. No caso, o agressor em questão também me chamava de PUTA enquanto passava a mão em mim (palavra confirmada por testemunha em audiência judicial, diga-se de passagem). O toque no meu corpo e o soco na cabeça? Estes, filmados.
Bom, mas o problema não é a transparência na roupa de Yasmin Brunet. O problema não é a saia curta, o problema não é o cropped com barriga de fora, calça jeans e muito menos um tênis: o problema é o homem que, acostumado com a objetificação sexual da mulher, acha que tudo é feito propositalmente pra ele. Isso é cultural e, como toda questão sociológica pode e deve ser mudada. Só depende da gente.
Quando uma mulher faz uma denúncia de violência formal na delegacia contra um homem, não aceita acordo e segue com o processo, ela não está apenas defendendo a si mesma: ela está defendendo silenciosamente todas as mulheres. Ela não o faz por vingança – se assim fosse, seria mais fácil aceitar dinheiro; ela o faz porque acredita que pode deixar o mundo um lugar melhor do que o que encontrou. Mais seguro.
Quando você pede para alguém parar de te tocar, você não está apenas se posicionado, você está dando poder para centenas de milhares de mulheres.
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