Eu fico com a coluna arrepiada quando escuto alguma influenciadora mostrando um produto de publicidade em suas redes e usando os seguintes adjetivos (geralmente na sequência): “essa peça é linda, é super moderna e atemporal”.
Eu compreendo que quando o assunto é marketing, a blogueira em questão tem que demostrar a utilidade da peça, que se encaixa teoricamente em diferentes estilos e ocasiões (do clássico ao moderno), mas o que me incomoda é justamente a união de dois adjetivos que nada têm em comum, a não ser a contradição.
Explico:
Ser moderno é viver uma vida de paradoxos.
É sentir-se fortalecido pelas imensas organizações burocráticas e midiáticas que detêm o poder de controlar e frequentemente destruir comunidades, valores, vidas; e ainda sentir-se compelido a enfrentar essas forças, a lutar para mudar o seu mundo formando-o em nosso mundo. Ser moderno tem sabor de revolução: rebeldia na maneira de falar, de agir, de reagir, de sonhar, de consumir, de ser feliz procurando eternidades no cotidiano que cada um inventa a sua maneira.
Investigando os revezes humanos, revestidos da mais fina ironia e, por que não dizer, do mais autêntico deboche, descobrimos que ser moderno é ao mesmo tempo, ser revolucionário e conservador: aberto a novas possibilidades de experiência e aventura, aterrorizado pelo abismo niilista ao qual tantas aventuras modernas conduzem, na expectativa de criar e conservar algo real, ainda que tudo em volta se desfaça. É querer o novo com os sentimentos do passado.
Niilismo é uma doutrina filosófica que indica pessimismo e ceticismo extremos perante a realidade ou valores humanos. Em um sentido amplo, o niilismo consiste em uma atitude de negação ou descrença absoluta em relação a princípios, sejam eles religiosos, morais, políticos ou sociais.

Na próxima vez que alguém tentar te vender algo classificando tal objeto de moda como “super clássico e super cool”; reflita por um instante: que elementos daquela peça já superaram o crivo do tempo? Que elementos são esteticamente novos para que possa ser considerado ‘moderno’?
Eu costumo dizer que só leio livros antigos porque se eles superaram o critério “existir com significado por mais tempo que muita gente”, tal obra merece a minha dedicação e atenção plena.
Quando o assunto é consumir roupa, vale a mesma coisa: dê seu tempo e seu dinheiro para pessoas que façam sentido conceitual e estético. Consuma de acordo com sua personalidade, não de acordo com a opinião dos outros.
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