Bolsos, sexismo e a semana de moda de Berlim

por | 15/07/2023 | 2023, cinema, cultura, cultura pop, feminismo, história, história da moda, literatura, look do dia, moda

Vamos fazer uma tour pelos looks da semana da semana de moda de Berlim?

Achei inspirações estéticas e referências ótimas pra gente ampliar a delicadeza da nossa imaginação e usar nosso biotipo e nosso armário pra se sentir mais gata-gostosa-poderosa: na real só expressar o que vc já sente por si mesma. Caso contrário, procure terapia.

Roupa não resolve neurose. .

Roupa não faz você se sentir o que você não é.

Quando você tirar a roupa pra tomar banho e passar o Bioderma Líquido (compre aqui) no rosto você volta exatamente pro mesmo lugar de antes do vestido. Roupa não muda sua auto estima, ela só intensifica o que você já está sentido: alegria, amor, irritação, insegurança….

Brincar com moda é conhecer mais a si mesma, por isso não se trata de uma área do conhecimento humano (a moda) de superfície (a não ser que você seja um pires), mas sim uma caixa de lápis de cor repleta de um infinito de possibilidades e suas emoções vão compor looks do dia que vão te deixar sob medida para ser exatamente quem vc já é <3

Gerald Matzka/Getty Images

+ adorei a bota de couro bico fino preta + camiseta

+ um rosto clean com o sorriso no olhar faz muito pelo close

+ a lavagem acizentada do jeans deixa ele “será que é dia, será que é noite” acho que fica muito misteriosa, adoro. Ninguém sabe se você tá vindo de um rolê ou indo para um.

Atriz Aino Laberenz na apresentação da coleção mais recente de Odeeh – Gerald Matzka/Getty Images

+ AMO quem entendeu que conforto e estética andam de mãos dadas

+ POR FAVOR PAREM DE ENCANAR COM BARRA DE CALÇA JEANS. Só dobra e vai. E se vó achar que pode tropeçar, faça dobras menores e mais vezes, fica mais durinho.

+ A História Complicada e Sexista dos Bolsos Na Moda Feminina:

Os bolsos nos são úteis quando conseguimos, de fato, utilizá-los; quando são grandes o bastante para podermos colocar tudo o que precisamos lá dentro. E isso é algo que raramente acontece nas roupas femininas em particular. Por que nossos bolsos são tão limitados? Por que são tão inúteis ou totalmente inexistentes?

Acontece que a resposta para essas perguntas permeia a moda ocidental desde o século XVII. Ou seja, está arraigada na nossa sociedade há 400 anos. E, spoiler, tem a ver com uma questão bastante sexista desde o começo.

Vamos lá:

Século XVIII: Finalmente aparecem bolsos mais acessíveis:

Durante os anos 1700, as pochetes usadas pelas mulheres como bolsos improvisados ficaram extremamente elaboradas, com enfeites e bordados costurados à mão. E, felizmente, trouxeram outra melhora: fendas.

As fendas possibilitavam acesso aos bolsos pendurados sob os vestidos. Se você era uma mulher rica (e se você tivesse bolsos, provavelmente você era uma), então eles poderiam conter qualquer coisa – desde algo minúsculo como alfinetes até algo maior como comida. 

Os vestidos volumosos da época, com as fendas, ofereciam às mulheres a capacidade de usar muitas camadas de tecidos e ainda ter acesso ao bolso interno.

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Trajes do século XIX mostram as retículas // Victoria and Albert Museum

Século XIX: Bolsos caem em desuso e dão lugar às retículas.

Lembra quando todo mundo começou a usar jeans skinny e de repente todos os bolsos desapareceram? Bom, basicamente foi o que aconteceu nos anos 1800 também, quando a silhueta dos vestidos emagreceu para algo mais inspirado na silhueta grega, não deixando nenhuma margem para os bolsos internos permanecerem.

Assim nasceram as bolsas. Retículas, como eram chamadas, eram bolsas minúsculas carregadas nas mãos ao invés dos quadris. Elas também se tornaram um símbolo de status, pois não eram grandes o bastante para carregar o necessário, então as mulheres acabavam deixando todo o dinheiro para os homens carregarem.

Retículas maiores não eram bem vistas, porque elas simbolizavam uma mulher trabalhadora, impossibilitada pela pouca condição financeira de ficar em casa costurando lenços, bebericando chás ou algo do tipo. Tudo isso foi só mais uma forma de dizer que as mulheres não deveriam ter acesso ao dinheiro ou às posses.

Obrigada, patriarcado.

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Coco Chanel e Marlene Dietrich // Reprodução

Início do século XX: A volta dos bolsos – que não deveriam nem ter saído.

Da metade para o fim dos anos 1800, mulheres começaram a se rebelar. Os padrões dos vestidos começaram a incluir instruções para costurar bolsos nas saias, caso você quisesse ser uma mulher independente.

As mulheres também começaram a retomar seu direito pelo uso dos bolsos no início dos anos 1900, quando começaram a vestir calças. Em 1933, a revista Women’s Wear Daily mostrou que isso era um assunto bastante controverso, perguntando às suas leitoras: “mulheres começarão a usar calças?”. Aparentemente, na época, mulheres terem tecidos entre as pernas estava assustando as pessoas, já que contrariavam a obrigação de serem “femininas”.

Mas com as duas grandes guerras que se seguiram, veio o boom das roupas utilitárias para mulheres, que estavam agora trabalhando enquanto seus maridos lutavam por seus países. E, com isso, queremos dizer que mulheres finalmente conseguiram calças que funcionavam e, com isso, queremos dizer também que elas tinham bolsos.

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Diane Keaton, no filme “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, e Britney Spears // Reprodução

Final do século XX: A moda nos quer magras, por isso roubou os nossos bolsos.

Mas depois, em algum lugar no meio do pós-guerra, a moda entrou em crise. Poderia existir calças para as mulheres? Como elas seriam? Qual seria o formato delas? Os bolsos começaram a ser completamente retirados das calças femininas porque a moda é obcecada por emagrecer a silhueta feminina (nenhuma novidade).

Os anos 70 e o início dos anos 90 trouxeram um período de alívio quando o estilo boyish se tornou tendência (é só pensar no filme Noivo Neurótico, Noiva Nervosa). Mas, depois dessa breve pausa, os anos 90 trouxeram a ascensão da bolsa de luxo – o que não ajudou no nosso apelo e deixou a moda mais preocupada com a criação de bolsas, ao invés de garantir que as roupas tivessem bolsos. Além disso, calças justíssimas de cintura baixa, que foram popularizadas por Britney Spears no final dos anos 90, não tinham espaço nenhum para eles.

Ah, e se você estiver se perguntando em que pé estavam os homens o tempo todo: eles estão muito ocupados afundando as suas mãos nos seus bolsos para se preocuparem com isso.

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Marion Cotillard e os bolsos modernos // Reprodução

Século XXI: Ok, temos alguns bolsos, mas eles vão caber meu celular?

O século XXI, o pouco que vivemos dele até agora, está cansado de tudo isso. Mulheres querem bolsos grandes e largos na parte de trás e na parte da frente de seus jeans. Nós queremos bolsos em todos os vestidos que temos. Queremos bolsos em camisas e saias e jaquetas e qualquer peça possível. Nós queremos colocar um fim nesses bolsos falsos que só servem para nos enganar. Mas, acima de tudo, queremos bolsos que caibam nossos celulares.

Bolsos grandes andam aparecendo lentamente em alguns lugares – até em tapetes vermelhos. Mas isso não significa que eles aparecem em roupas da vida real, como nos jeans, onde nós realmente precisamos deles para colocar nossos telefones. A cada atualização tecnológica, eles vão ficando maiores (o iPhone 6S está aí para provar). Um dia, seremos todas forçadas a segurar nossos celulares na mão ou jogá-los em uma bolsa cada vez mais confusa, onde nunca mais serão encontrados novamente.

Se analisarem bem a história, vão ver que o que realmente pedimos, desde o início, é: igualdade.

obs: Esse texto foi criado com base na tradução do texto The Weird Complicated Sexist History Of Pockets e modificado para melhor compreensão, via Modefica.com.br.

E tem muito bolso na Berlin Fashion Week:

Gerald Matzka/Getty Images




Autor:

Helô Gomes
Helô Gomes é bacharel em jornalismo, premiada nacionalmente com a obra "Cordel de Moda - arte e Cotidiano na feira de Caruaru"; cobriu as principais semanas de moda do circuito Nova York, Londres, Milão, Paris, Rio e São Paulo, publicou e apresentou pesquisas científicas a convite da USP em Dublin, Moscou, Budapeste e Cracóvia, é apaixonada por literatura e arte e no Coletivo Lírico expressa todo seu olhar sobre a moda em forma de objetos de consumo afetivos

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