como ser mais criativo em 3 passos
Mas, Helô, para que serve o Clube do Pensamento? A resposta é tão complexa quanto simples: para falarmos sobre coisas essenciais a nossa alma.

Bom, com a palavra, Rubem Alves:
Você é pipoca ou piruá?
“A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-mo a algo que poderia ter o nome de ‘culinária literária’. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A festa de Babette, que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como ‘chef’. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo – porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu. A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! – e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
E quem não vira pipoca, os conhecidos “pirás”?! Bom… Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira…”
Como tem sido seu diálogo com as suas emoções? Você frequentemente se pega perguntando o que está sentindo ou a vida é corrida demais para gastar esse tempo com suas próprias reflexões?
Pois aqui vai uma dica de ouro, amigo: se você não tem tempo para cuidar da sua saúde, você vai precisar de tempo para cuidar da sua doença.
Existem perguntas que revelam nossa essência de maneira indireta, mas existem coletivos de pensamento (obrigada, Sra. Internet) que se tornaram espaço de acolhimento, debate saudável, crítica fundamentada, bom humor e encontro afetivo verdadeiro dentro dessa rede mundial de computadores. O Clube do Pensamento chega com essa proposta: mediado por Heloisa Gomes (jornalista premiada nacionalmente, artista plástica, pesquisadora científica e triatleta amadora), o objetivo do nosso encontro é que você desligue a tela do seu computador (ou celular; o encontro acontece pelo Google Meet), se sentindo a pessoa mais rica do mundo: o autoconhecimento é o bem mais precioso que podemos ter, pensar com as próprias idéias é, portanto, o maior privilégio.
Dizem que não é possível aprender Filosofia. Que só é possível se ensinar a pensar filosoficamente. Pois considerem então o Clube do Pensamento uma academia onde iremos praticar alguns abdominais cerebrais.
A Bibliografia escolhida? Segue a lista (obs: não se preocupe em ler esta ou aquela hora, traremos tudo de maneira mastigada e resumida para vocês)

The Paintings That Revolutionized Art
História da Beleza – Umberto Eco
A descoberta do Inconsciente / Do desejo ao sintoma – Antonio Quinet
Antologia Ilustrada de Filosofia
Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos – Rubem Fonseca
Primeiras Estórias, Terceira Margem do Rio – João Guimarães Rosa
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