Amor é fogo que arde sem se ver é um soneto de Luís Vaz de Camões. Grande escritor português, autor de Os Lusíadas, maior poema épico da língua portuguesa. Nasceu em 1524 e morreu em 1580, provavelmente, em Lisboa.
e, com certeza, uma das melhores frases que definem aquele momento que o crush visualiza a mensagem e não responde.
pensando nisso, a gente resolveu fazer esse post pra explicar a belezura desse soneto e ocupar a cabeça com essa tal de poesia – que, como diz Picasso, é uma “mentirinha” que a gente conta pra gente pra deixar a realidade mais bela <3
partiu?
Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor
Análise e interpretação
O poema de Camões é um soneto italiano. O soneto é uma forma fixa de poesia que consiste em quatro versos: os dois primeiros com quatro estrofes (quartetos) e os últimos com três estrofes (tercetos). A estrutura costuma ser a mesma. Começa com a apresentação de um tema, que passa a ser desenvolvido, e, geralmente no último verso, contém uma conclusão que esclarece o tema.
A poesia de Camões segue a fórmula do soneto clássico. É decassílabo, o que significa que contém dez sílabas poéticas em cada estrofe. A sílaba poética, ou sílaba métrica, se diferencia da gramatical porque ela é definida pela sonoridade. A contagem das sílabas em uma estrofe termina na última sílaba tônica.
Análise e interpretação
O poema de Camões é um soneto italiano. O soneto é uma forma fixa de poesia que consiste em quatro versos: os dois primeiros com quatro estrofes (quartetos) e os últimos com três estrofes (tercetos). A estrutura costuma ser a mesma. Começa com a apresentação de um tema, que passa a ser desenvolvido, e, geralmente no último verso, contém uma conclusão que esclarece o tema.
A poesia de Camões segue a fórmula do soneto clássico. É decassílabo, o que significa que contém dez sílabas poéticas em cada estrofe. A sílaba poética, ou sílaba métrica, se diferencia da gramatical porque ela é definida pela sonoridade. A contagem das sílabas em uma estrofe termina na última sílaba tônica.
/é/ um/ con/ten/ta/men/to/ des/con/ten/te
1 / 2 / 3 / 4 / 5 / 6 / 7 / 8 / 9 / 10 / x
Nas primeiras onze estrofes podemos observar uma cesura na sexta sílaba poética. A cesura é uma pausa rítmica no meio da estrofe. O poema possui um esquema rímico clássico, formado por ABBA, ABBA, CDC, DCD.
A = er; B= ente; C = ade; D = or.
O formato do soneto clássico e a sonoridade estão diretamente relacionados ao conteúdo do poema. Nas onze primeiras estrofes temos o desenvolvimento de um raciocínio, e, nessas estrofes, observamos uma sonoridade próxima por conta das rimas e da pausa na sexta sílaba métrica.
O tema da poesia é desenvolvido por meio do silogismo, que é um sistema de raciocínio desenvolvido por Aristóteles em que afirmações prepositivas levam a uma conclusão lógica. No poema de Camões, as proposições são feitas nos dois quartetos e no primeiro terceto, sendo a última estrofe a conclusão do silogismo.
Camões usa a antítese para desenvolver as suas preposições. Antítese é uma figura de linguagem onde se busca a aproximação de ideias opostas. Deste modo, ele consegue aproximar coisas que parecem distantes para explicar um conceito tão complexo como o amor.
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
No primeiro verso, podemos observar que essas ideias opostas também estão unidas por uma ideia de causalidade: primeiro o fogo, que causa a ferida e que leva à dor. Essa relação ajuda a unir ainda mais a premissa do poema e a entender a imagem que Camões passa do amor.
Por meio da aproximação dos opostos, o poeta nos traz uma série de afirmações sobre o amor que nos parecem contraditórias, mas que são inerentes à própria natureza desse sentimento. Na última estrofe, Camões apresenta a sua conclusão.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor
Camões usa do pensamento lógico para expor um sentimento humano muito profundo e complexo, o amor. O tema do amor é muito caro à poesia, sendo explorado há muito tempo por diversos escritores.
Uma das figuras mais abordadas sobre o amor é a lealdade do que ama em relação ao amado. As cantigas medievais versavam constantemente sobre esse sentimento de servidão, e o autor não deixa de colocá-lo no seu poema, usando sempre a antítese para construir seu argumento.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Camões exprime a dualidade desse sentimento de uma forma exemplar. Alcançando o cerne de um dos sentimentos mais complexos que existem; que nos provoca tanto prazer e sofrimento ao mesmo tempo.
O poema se torna atemporal na medida em que o tema abordado é universal e as figuras usadas para desenvolvê-lo são complexas e belas. Camões consegue conciliar imagens muito opostas para explicar o que é o amor.
O amor, assim como tudo na vida, é um jogo de dualidades, de ambiguidades, que faz parte do cerne do ser humano. Não existe sentimento humano que possa ser explicado de forma clara e simples. Porém, alguns poetas conseguem exprimir de forma inteligível coisas tão complexas como o amor.
Camões é um desses poetas. Seu soneto é um desses exemplos de uso fino da palavra, da criação de figuras e imagens, que nos ajudam a entender um pouco de nós mesmos.
aí ó, você esqueceu do crush pelo menos por uns minutinhos, não foi?
beijocas com afeto
Coletivo Lírico
Gosto desta poesia cantada em verso e prosa primeiramente pelo Legião Urbana, depois pela Leila Pinheiro.
a gente mistura no coração acha que é de cada um a autoria e quando percebe, até a gente vira autor do sentimento, né, Ana?!
exatamente querida!!! que comentário lindo!!!