Por Helô Gomes
Esta noite sonhei com baratas. Não baratas comuns, pareciam lagostas, gigantescas com antenas sintonizadas mais em meu movimento do que em meu suposto medo delas que, confesso, há tempos já não existe mais. Ora, estes animais – os únicos capazes de driblarem até mesmo o fim dos tempos, apocalípticas, me causam mais curiosidade que náuseas e talvez por isso meu sonho kafkaniano me traz hoje ao teclado. Elas saiam de minhas mangas como ex amigas traidoras num vexame – com vexame – de abelhas que parte em debandada rumo a lugar nenhum fugindo sabe-se Deus de que vespeiro. Pobres coitadas. Não matei nenhuma deles, pelo contrário, tive o cuidado de deixá-las escorregarem pelo meu pulso sem quebrar uma casca sequer: ouvi dizer que, seres mutantes, multiplicam-se após a morte e valha-me Nossa Senhora ser minha raiva ou o meu desprezo um dos responsáveis pelo aumento de tais insetos no Universo. Curiosamente e, felizmente, ao contrário de nosso amigo Gregor Samsa, sofri um certo tipo de desmetamorfose ao acordar e a verossimilhançae se deu apenas nos poucos floreios e na ausência de adjetivos inúteis ao me olhar no espelho: eu havia me tornado um ser humano. DesExistido horizontalmente e me verticalizado em mulher. Que bom. Estava com saudades de mim mesma.

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