Se encaramos o modernismo como um empreendimento cujo objetivo é fazer que nos sintamos em casa em um mundo constantemente em mudança, nos damos conta de que nenhuma modalidade de modernismo jamais poderá ser definitiva.
É o que sugere o Homem do Subterrâneo (1864 ) de Dostoiévski em seu infindável diálogo interior:
Julgam, porventura, meus senhores, que estou dizendo desatinos? Deem-me licença para que me justifique. Concordo que é um homem animal, geralmente criador, que tem a obrigação de perseguir um objetivo com plena consciência e fazer trabalho de engenheiro, quer dizer, abrir caminho eternamente sem cessar seja em que direção for.
[…] Que o homem tem tendência para construir e traçar caminhos é indiscutível. Mas […] não será possível […] que sinta um terror instintivo de chegar ao fim da obra e acabar o edifício? Não poderá suceder que goste só de ver o edifício de longe, e não de perto; que apenas lhe agrade construí-lo, mas não habitá-lo?
O mesmo não lhe parece quando você escolhe peças cuja textura machuca sua pele? Lantejoulas, canutilhos, poliéster que não deixam a pele respirar, saltos altíssimos que deixam os dedos em câimbra… Roupas que no manequim parecem perfeitas, mas na pele da vida mais que real, fazem as vezes de objetos torturantes?
Se alguém nunca lhe disse isso antes, digo eu. Escute-me: ninguém se importa com você. E se a pessoa se importa, o problema é só dela. Você não acordou neste belo dia chamado hoje para agradar o olhar alheio. Você acordou para ser feliz.
Por isso, te pergunto: vale a estética? Vale a suposta “aprovação” do olhar terceiro sendo que seus próprios órgãos estão ao prantos urgindo por conforto e bem estar? Estar desconfortável é o oposto de ser chique.
A moda hoje nos oferece uma abundância de possibilidades para todos os estilos, tamanhos e biotipos. Das heranças da loja online: você não precisa nem passar por vendedoras para adquirir um look que represente quem você é: no visual e na essência.
A potência da vontade de viver memórias, quando o assunto é moda, certamente é mais importante do que se você ficou bonita na foto. Menos pose, mais paz.

O balanço, Jean-Honoré Fragonard (1767)
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