A moda é um conjunto de costumes e valores de uma sociedade que podem ser representados através do jeito de vestir, certo?
Pois então: já que a estética do que é belo é influenciada por diversos fatores – como desfiles de grandes estilistas, propagandas de revista, figurinos de cinema, arte e muito, muito mais (já que eles geram tendências de orientação do belo que faz com que nosso olhar mude incessantemente), a gente aprende que ao longo da história o vestuário acabou se estabelecendo como uma forma de diferenciação – antigamente, de status social, mas hoje, acho que a gente pode falar também em diferenciação filosófica! O que, ao meu ver, é muito mais importante e especial.
Desde que a moda é moda, quando uma tendência se torna muito popular ela é trocada por uma nova. Esse é o ciclo dela. Ponto. Acontece que esse sistema gera uma fabricação constante de coleções com obsolescência programada (afinal, se a roupa ainda me serve porque eu teria que comprar uma nova) por estações e temporadas, conhecidas como prêt-a-porter e, principalmente, como as fast fashions (mais comuns no comércio varejista.
Nela, os novos looks são rapidamente propagados pela mídia, que age refletindo e legitimando novos hábitos e tendências de mercado e assim o mundo do look do dia gira.
Bom, acontece que o consumo de roupas acelerado tem deixado grandes marcas no meio ambiente: a degradação do planeta e o consumo de muita matéria prima não renováveis. Segundo a Enviromental Protection Agency, a indústria têxtil está entre os QUATRO TIPOS de indústrias que mais consomem recursos naturais e que mais poluem. Além disso, esse sistema fomenta a desigualdade sociocultural, ao passo que utiliza empregos sazonais e informais para manter o baixo custo da produção.
Moda e preservação ambiental são aparentemente conceitos conflitantes, porque né?! O primeiro (moda) implica em produtos com curtos ciclos de vida e o segundo (sustentabilidade) leva em conta durabilidade, e reutilização de produtos.
Contudo, algumas formas são mais propensas a mudanças do que outras. Os chamados “clássicos” têm design menos datado no tempo, e por isso têm maior longevidade. Além disso, a moda é, sobretudo, uma expressão do estilo pessoal, que demonstra a criatividade e o senso estético das pessoas.
Através da moda você pode expressar sua individualidade, certo? E ao usar uma marca, você não está comprando apenas a beleza da peça, está legitimando todo seu processo produtivo e carregando o valor moral da empresa. Se a loja onde você compra, utiliza trabalho escravo ou infantil em sua confecção e descarta resíduos químicos nocivos de forma incorreta, você está alimentando essas práticas.
Assim, em algumas situações, os consumidores têm o poder de apoiar ou punir marcas por suas atitudes sociais e ambientais, e isso se dá na sua escolha de qual loja comprar. E todo mundo pode fazer sua parte! Para isso, claro, é essencial se informar dos produtos que a fabricante utiliza. Se você deseja se tornar um consumidor responsável e ecofriendly, deve se questionar como, onde e por quem foi feita aquela roupa que você irá comprar.
Vamos lá: muitas são as medidas que podem ser empregadas para reduzir os impactos sociais e ambientais na indústria da moda e existem inúmeros processos e momentos de decisão diante dos quais uma marca adota seu posicionamento: todo mundo pode investir no desenvolvimento sustentável (tanto produtores quanto consumidores).
Exemplo: na confecção, a empresa pode decidir aumentar a vida útil de uma peça de roupa através do acabamento, pode usar tecidos que causem menor impacto ambiental, verificar a procedência das matérias-primas, assegurar condições dignas de trabalho, realizar o upcycling e etc. Cabe às marcas e aos consumidores a decisão na escolha de um posicionamento ético frente à moda, né, migles?!
Vocês sabiam que várias correntes que visam um consumo mais consciente surgiram nos últimos anos e elas estão super alinhadas com uma proposta mais ecológica?!
Entre elas, destacam-se o movimento de moda ética, de slow fashion, da eco moda, do zero-waste fashion e do eco chic.
Todo mundo abrindo a cabeça e vem com a gente:
Eco chic
O termo eco chic surgiu pra provar que é possível estar estiloso, elegante, descolado & antenado e, ao mesmo tempo, ter uma responsabilidade com aspectos ambientais e sociais. O estilo de vida eco chic corresponde no desafio das marcas em refletir preocupações morais sem abdicar de uma estética bacana. Ser eco chic é estar bem vestido, se valendo de cor, textura e caimento de forma sustentável. Vestir-se de forma criativa e valorizar a inovação são sinônimos de elegância. Um conceito de moda que atende a perspectiva de um consumidor eco chic é a moda ética.
Moda ética
Moda ética leva em consideração todo o impacto da dimensão sociocultural e ambiental inserida na concepção de um produto. O conceito ganhou destaque em 2004, com o Ethical Fashion Show, evento e manifesto realizado em Paris. O movimento questiona a exploração de trabalho de funcionários de confecções, que muitas vezes são submetidos a condições análogas ao trabalho escravo. No dia 24 de abril de 2013, 1.133 pessoas morreram no pior acidente da indústria da moda, no complexo de fábricas Rana Plaza em Dhaka, Bangladesh. Esse dia deu origem à organização Fashion Revolution, alinhada com os valores de moda ética, que instituiu esse dia como o fashion revolution day. A organização propõe questionamentos como: quem fez minhas roupas? Sob quais condições?
Eco moda
Já eco moda (ou, moda ecológica ou, moda verde) parte do mesmo conceito do eco design. Uma proposta que considera as consequências ambientais em todos os estágios de desenvolvimento de um produto. Nela, reduz-se o consumo de recursos e são escolhidos materiais e processos que colaborem para diminuir o impacto ambiental durante seu ciclo de vida. Há o uso de tecidos de fibras orgânicas e métodos de produção que minimizem a contaminação de rios e mares, evitando ao máximo produtos químicos poluentes como corantes sintéticos. Algumas alternativas são o algodão orgânico e fibras de abacaxi, de bambu, de cânhamo, etc. O ecoproduto é projetado de acordo com um balanço energético e material, quantifica as perdas e possíveis desperdícios, além de pensar em refrear a geração de resíduos sólidos. A moda verde tem grande influência da onda vegana ou eco vegan, e diversas marcas que adotam esse posicionamento oferecem produtos cruelty free, ou seja, sem crueldade contra animais.
Ao pensar na sustentabilidade de um material, devemos considerar diversos fatores, tais como: a capacidade de renovação da fonte, o processo de como a fibra é transformada em tecido, e a pegada de carbono total do material. De acordo com a fundação Earth Pledge, mais de oito mil produtos químicos são utilizados no processo têxtil e 25% dos pesticidas do mundo são empregados no cultivo de algodão não orgânico. Os esforços para encontrar medidas que reduzam os danos à natureza durante o cultivo da matéria prima, produção e transporte, tornam a moda sustentável tipicamente mais cara do que a fabricada por modelos convencionais, mas com certeza a conta ambiental (e moral, e emocional) vai sair muito mais barata para as futuras gerações.
Zero waste fashion
O conceito de zero waste fashion se refere à produção de vestimentas e acessórios que geram pouco ou nenhum resíduo em sua produção. Ele faz parte do movimento eco fashion e elimina o desperdício durante a fabricação. O designer escolhe padrões que utilizem de forma mais eficiente o tecido e reutiliza retalhos para fazer detalhes de peças.
Upcycle
Uma tendência que colabora para a redução de lixo é o Upcycle, que transforma objetos no fim de sua vida útil que seriam descartados em novos produtos. A utilização de câmaras de ar de pneus para a confecção de artigos de moda vem aumentando e já chegou ao Brasil. A Recman Br produz bolsas e mochilas de luxo que se enquadram na tendência eco chic e moda sustentável.
Slow fashion
Além de uma transformação no processo criativo, no que se refere ao uso de materiais e processos produtivos, para uma moda mais ecofriendly é preciso analisar oportunidades que vão além dessas questões. Um dos movimentos mais fortes na moda com uma pegada sustentável é o slow fashion, que compartilha os ideais do movimento slow, assim como a iniciativa slow food, ligada à alimentação. O slow fashion vem na contramão da produção de roupas massivas e de baixa qualidade (das fast fashions) e propõe um consumo mais lento, e peças com maior vida útil. O movimento questiona o conceito e a velocidade da moda, e visa um design atemporal com acabamento de qualidade que proporcione uma durabilidade à peça. As marcas que funcionam com o ideal do slow fashion têm uma produção em baixa escala e se assemelham mais a ateliês do que a indústrias.
O slow fashion (moda lenta) é uma das formas mais fáceis de iniciar no caminho por um lifestyle mais consciente e sustentável na moda. Você pode se inserir no movimento a partir de práticas como o reaproveitamento de peças de brechós, reforma de roupas vintage e no desapego e compartilhamento de peças em bazares. Dessa forma, reutiliza-se o material que já foi produzido evitando que ele se torne lixo. Assim, você estará refreando a produção industrial de roupas que incentiva o descarte e adquirindo um estilo autoral, que pode ser um retrô super charmoso ou até um look minimalista.
Um casaco pode ter seu uso compartilhado e não precisa ser de posse de uma só pessoa, e um vestido pode ser reformado mais de uma vez. E essa lógica pode ir adiante. Na antiga música de carnaval “Marchinha da Cueca”, um homem fica bravo porque alguém pegou sua roupa de baixo para fazer pano de prato. Não precisamos chegar a tanto, mas roupas de baixo e bermudas podem virar pano de chão… Por que não?
Seguir o slow fashion, ensinar esses conceitos às crianças e dar roupas desse estilo a seus amigos e parentes é ir além de “tendências”, valorizando um estilo atemporal e ecofriendly. Customizar, reaproveitar e transformar são comportamentos bem vindos na hora de cuidar do planeta – e de montar um look do dia! ;)
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