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FLIP 2018: dois poemas pra você ler e se sentir dentro da Festa Literária de Paraty

por | 27/07/2018 | cultura, literatura, newsletter, prosa & poesia

Oi pessoal,

Coletivo Lírico falando ao vivo e a cores (cheiros, paladares e todos os outros sentidos que vocês puderem sentir do lado daí da telinha do celular ou computador) direto da 15a Festa Literária Internacional de Paraty!

Tudo bem com vocês?

Que delícia sentir os nossos sentidos, né? Fiquei aqui pensando como o Professor Pasquale acabou com o pleonasmo pra gente. É feio na gramática mas na vida é tão lyndo, tão dramático, né? Não sei com vocês mas, pra mim, passa a imagem de alguém que fala comigo olhos nos meus olhos bem no fundo, sabe? Ah, e falando em Pasquale, ele também cometeu muito bullying linguístico com o gerúndio, né, uma tristeza só porque a vida estando sendo no presente é tão mágica! Acho o agora é tão eterno! <3

Pois bem, tudo isso pra dizer que Fernanda Montenegro abriu a Flip 2018 – embaixo de chuva, o que não impediu a performance (até porque ela estava no coberto haha); novas amizades surgindo a partir do compartilhamento de guarda-chuvas do lado de fora, de desistências por motivos de frio (só ficou mesmo quem estava afim de poesia) e de aconchego no coração por motivos de ê-ba, começou mais um acampamento do pensamento lírico!!!

(pra quem não sabe, foi na FLIP que o Coletivo surgiu (se quiser ler a história da Helô Gomes, só clicar aqui).

E, para abrir a festa que celebra toda boa invenção poética, Montenegro inaugurou a mesa com duas leituras, aqui vão elas:

Poemas aos Homens do nosso Tempo

Amada vida, minha morte demora.

Dizer que coisa ao homem,

Propor que viagem? Reis, ministros

E todos vós, políticos,

Que palavra além de ouro e treva

Fica em vossos ouvidos?

Além de vossa RAPACIDADE

O que sabeis

Da alma dos homens?

Ouro, conquista, lucro, logro

E os nossos ossos

E o sangue das gentes

E a vida dos homens

Entre os vossos dentes.

Lindo, né? Hoje vi uma camiseta que dizia assim: “enquanto vocês capitalizam a realidade eu socializo sonhos!” achei tão linda, fiquei com vontade de fazer aqui também! O que acham?

A segunda leitura foi uma crônica, segue:

E.G.E.

(Esquadrão Geriátrico de Extermínio)

Crônica de Hilda Hilst para o “Correio Popular” de Campinas-SP

 

      O poeta pode ser violento. A maior parte das vezes contra si mesmo. Um tiro no peito, gás, veneno, um tiro na boca, como fez Hemingway, que também foi poeta em O Velho e o Mar; Maiakóvski, um tiro no peito; Sylvia Plath, gás de cozinha; Ana Cristina César, um salto pelos ares; etc etc etc. “Os delicados preferem morrer”, dizia Drummond. Mas esta modesta articulista, sobretudo poeta, diante das denúncias feitas pela revista Veja, todos aqueles poços perfurados em prol de uma única pessoa ou em prol de amiguelhos de sua excelência, presidente da Câmara, senhor Inocêncio (a indústria da seca), e o outro com seu lindo carro às custas de gaze e esparadrapo… Credo, gente, quando você vê televisão ou in loco o povão famélico, desdentado, mirrado… Um amigo meu foi para o Ceará e passou os dias chorando! As crianças todas tortas, todos pedindo comida sem parar… e 500 toneladas de farinha apodrecendo… e montes de feijão desviados para uma só pessoa… (um parênteses, porque meu coração de poeta pede a forca, o fuzilamento, cadeia, cadeia para aqueles que se locupletam à custa da miséria absoluta, da dor, da doença). Gente, eu já estou uma fúria e para ficar mais calma proponho algumas coisas mais sutis, por exemplo: o Esquadrão Geriátrico de Extermínio, a sigla óbvia seria EGE. Arregimentaríamos várias senhoras da terceira idade, eu inclusive, lógico, e com nossas bengalinhas em ponta, uma ponta-estilete besuntada de curare (alguns jovens recrutas amigos viajariam até os Txucarramãe ou os Kranhacarore para consegui-lo) nos comícios, nos palanques, nas Câmaras, no Senado, espetaríamos as perniciosas nádegas ou o distinto buraco malcheiroso desses vilões, nós, velhinhas misturadas às massas, e assim ninguém nos notaria, como ninguém nunca nota a velhice. Nossas vidas ficariam dilatadas de significado, ó que beleza espetar bundões assassinos, nós faceiras matadoras de monstros!

      O curare é altamente eficiente, provoca rapidinho a paralisia completa de todos os músculos transversais (bunda é transversal?) e em seguidinha sobrevém a morte por parada respiratória. Ficaríamos todas ao redor do coitadinho, abanando: óóóó, morreu é? Um pedido ao presidente Itamar: severidade, excelência, é ignominioso, indigno, insultante para todos nós, deste pobre Brasil tão saqueado, que essas terríveis denúncias terminem no vazio, no nada, na impunidade. É sobretudo perigoso porque:

      de cima do palanque

      de cima da alta poltrona estofada

      de cima da rampa

      olhar de cima

       LÍDERES, o povo

      Não é paisagem

      Nem mansa geografia

      Para a voragem

      Do vosso olho.

      POVO, POLVO

      UM DIA.

 

      O povo não é o rio

      De mínimas águas

      Sempre iguais.

      Mais fundo, mais além

      E por onde navegais

      Uma nova canção

      De um novo mundo.

 

      E sem sorrir

      Vos digo:

      O povo não é

      Esse pretenso ovo

      Que fingis alisar,

      Essa superfície

      Que jamais castiga

      Vossos dedos furtivos.

      POVO. POLVO.

      LÚCIDA VIGÍLIA.

      UM DIA.

foi aplaudida de pé sim ou obviamente?

+ aqui tem post com 4 poemas arrebatadores de Hilda Hilst

+ aqui tem post com conhecimento rápido literário: uma rapidinha com Hilda Hilst

+ e, aqui  tem a nossa homenagem a essa mulher “inesgotável” <3




Autor:

Helô Gomes
Helô Gomes é bacharel em jornalismo, premiada nacionalmente com a obra "Cordel de Moda - arte e Cotidiano na feira de Caruaru"; cobriu as principais semanas de moda do circuito Nova York, Londres, Milão, Paris, Rio e São Paulo, publicou e apresentou pesquisas científicas a convite da USP em Dublin, Moscou, Budapeste e Cracóvia, é apaixonada por literatura e arte e no Coletivo Lírico expressa todo seu olhar sobre a moda em forma de objetos de consumo afetivos

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