Era uma vez em um reino não tão distante assim onde tudo nessa Internet era mato e os looks do dia surgiram pra mostrar verdadeiramente como determinada garota podia ser feliz para sempre por hoje com apenas uma troca de roupa. Acreditem vocês ou não, existia até uma narrativa do itinerário do cotidiano de cada uma delas, coisa mais linda.
Aí vieram as semanas de moda e os anunciantes de blogueira “exigiam” que elas trocassem de roupa 4, 5 vezes ao dia – praticamente uma nova produção a cada novo desfile, afinal de contas, quanto mais imagens de moda ela pudesse criar durante aquela temporada fashion, mais dinheiro ela embolsava.
Cada qual com seu histórico familiar e profissional, elas faziam o que podiam para a criação da imagem perfeita de estética e glamour: fotógrafos a tiracolo, portões emprestados (sim, às vezes a moça em questão nem morava na frente de determinado prédio ou não estava hospedada no hotel usado para o cenário), mas, claro, o que contava era o resultado final e valia de tudo se o intuito de gerar o desejo de consumo nas seguidores – à época, ainda leitoras de WordPress e Blogspot – fosse atingido.
Com o advento das redes sociais e do excelente Instagram as coisas mudaram um pouco de figura: o poder da linguagem foi nocauteado pela força da imagem e carões & poses congeladas se tornaram invencíveis no girar da roda do varejo e do atacado da indústria têxtil brasileira. O empresariado agradecia aos céus pelos novos micro veículos de comunicação chamados influenciadoras digitais que haviam surgido para descentralizar o poder da notícia do jornalismo de moda. Ponto pra democracia fashion.
O problema foi quando bateu a carência de conteúdo. Reparem bem vocês no excesso de adjetivação repetitiva usado atualmente por grande números de arrobas para classificar e/ou elogiar determinado produto e/ou experiência:
“look deuso”
“evento especial”
“estou apaixonada por”
vamos lá:
- a gente não se apaixona por um objeto. a gente se apaixona por pessoas.
- se todo evento é especial, nenhum evento é especial.
- Deus está nú, minhas caras.
A moda não deveria ser um extrato do seu saldo bancário, ou uma página do Word do seu currículo listando suas competências consumistas, quase como um LinkedIn da Becky Bloom.
Moda é expressão, é comportamento, é, antes de tudo: uma grande viagem pra dentro de nós mesmos: uma odisséia em que cada uma de nós é o próprio Ulisses em busca de sua Ítaca do conforto e do estilo.
Por mais dias com menos looks, por mais looks cheios de dia!

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