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IFood: novo golpe do restaurante falso engana usuários, saiba como se proteger!

por | 15/06/2022 | 2022, cultura, Curiosidades, gastronomia

Mesmo com protocolos de checagem de dados de estabelecimentos, criminosos encontram brechas para aplicar a fraude; veja como funciona o golpe no aplicativo de delivery

Uma das vantagens de plataformas de refeições prontas, como a do iFood, é concentrar numa única tela dezenas, até centenas de restaurantes. Isso facilita a comparação de pratos, preços e promoções. O problema é que, em alguns casos, os preços promocionais são iscas e os pratos não existem.

Um leitor que pediu para não ser identificado chamou a atenção para o golpe do restaurante falso no iFood. Ele afirma já ter caído no mesmo golpe três vezes, em restaurantes distintos.

O esquema funciona assim:

  • O golpista abre um restaurante falso com ofertas atraentes.
  • As vítimas, atraídas pelos preços baixos, fazem o pedido e pagam.
  • O restaurante falso embolsa o dinheiro e não entrega a refeição.
  • A vítima, estranhando a demora na entrega, tenta falar com o restaurante e descobre que números de telefone e endereços de e-mail ou são falsos, ou não atendem/retornam o contato.

Nas redes sociais (RedditTwitter), não é difícil encontrar relatos similares.

Quando um restaurante ingressa na plataforma do iFood, as primeiras avaliações e a nota média, que varia de uma a cinco estrelas, não aparecem. Em vez disso, um selo “Novo!” é exibido.

É essa lacuna que os golpistas exploram. Dias depois, quando o iFood libera a exibição das avaliações, surge uma avalanche de notas 1,0 (a menor possível) com relatos de pedidos não entregues anexados.

Embora não tenha sido possível verificar, é provável que os restaurantes com essa conduta adotem o plano básico do iFood, em que a entrega das refeições é feita pelo próprio restaurante, sem envolver os entregadores que trabalham para o iFood.

Isso porque, segundo alguns relatos encontrados nas avaliações dos restaurantes, esses dão baixa no pedido e o sinalizam como “entregue”, sem de fato entregar qualquer coisa, o que seria impossível com os entregadores aleatórios que respondem ao iFood, disponibilizados no iFood Entregas, o plano mais caro.

Centenas de avaliações e nota 1,0

Os restaurantes Panela de Barro Restaurante e Marmitaria e Labrasa Grill, ambos de Goiânia (GO), ilustram bem o golpe.

Avaliação do Bruno, de 1 estrela, no iFood: “Safados, golpistas!!!! nunca entregaram meu pedido, telefone de contato não existe, não me responderam no chat, e nem devolveram o dinheiro. descobri da pior forma que o ifood não se responsabiliza quando isso acontece. Tentei cancelar o pedido, abri reclamação e depois de 4 dias nada aconteceu.”
Imagem: iFood/Reprodução.

De cara, o Panela de Barro oferece “Promoçao Ate As 00 Horas De Hoje” (erros de grafia mantidos) com preços abaixo do normal, como um combo com duas marmitas de feijoada grandes e uma Coca-Cola de 1 litro por R$ 20.

Os dois restaurantes têm nota 1,0, resultado da média de 196 avaliações no Panela de Barro e de 712 no Labrasa Grill. A reclamação é sempre a mesma: pedidos que não são entregues.

Pelo menos até a publicação desta reportagem, ambos ainda apareciam no sistema do iFood.

Os dois restaurantes goianiense foram registrados no mesmo endereço: Rua Um, 101, no Parque Atheneu. De acordo com fotos do Google Street View de janeiro de 2019 (as mais recentes), nesse endereço há uma casa de alvenaria simples.

Print do Google Street View, mostrando o local do endereço informado por restaurantes falsos no iFood em Goiânia (GO).
Imagem: Google/Reprodução.

Manual do Usuário também encontrou casos do tipo em restaurantes de regiões específicas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Fazendo uso de uma API do iFood, foi possível extrair listas dos restaurantes da plataforma em recortes geográficos e por tipo de restaurante. Foram analisados pizzarias e restaurantes de comida brasileira nas duas capitais, com notas entre 1,0 e 2,0, todos avaliados individualmente.

A análise revelou seis restaurantes paulistas e um carioca com características do golpe do restaurante falso. Em cada um deles, mais reclamações de pedidos pagos que jamais foram recebidos.

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Avaliação da Gabriella, de 1 estrela, no iFood: “não recebi meu pedido, não esqueçam de ver as avaliações, isso aqui é golpe puro, o barato sai muito caro!! fiz meu pedido as 8h, tentei contato, tentei ligar, tentei cancelar e em nada tive sucesso, esperei até às 10 e eles deram como “finalizado” não recebi nada!!!!”
Imagem: iFood/Reprodução.

Chamou a atenção o fato de alguns restaurantes apresentarem CNPJ. Pelo menos cinco restaurantes, registrados na categoria MEI (microempreendedor individual), deram baixa nos CNPJs recentemente.

Tal especificidade dá brecha para outras hipóteses que não a do golpe. Alguém talvez tenha se apropriado de contas de restaurantes fechados para aplicar fraudar o iFood? Os donos “esqueceram” de fechar a conta no iFood e seus estabelecimentos, que nem existem mais, continuam recebendo pedidos?

De qualquer forma, os transtornos e eventuais prejuízos continuam incidindo nos consumidores, usuários do iFood.

Manual do Usuário tentou contato com cinco desses restaurantes. Em três casos, os e-mails eram inexistentes e voltaram. Os outros dois não responderam até a publicação desta reportagem.

E o cliente?

Avaliação da Rita, de 1 estrela, no iFood: “Não recebi e nem recebi meu dinheiro de volta empresa parceira golpista”
Imagem: iFood/Reprodução.

É possível solicitar o reembolso ao iFood em casos assim, mas o atendimento da empresa força a barra para que o consumidor se resolva com o restaurante. O que, no caso dos restaurantes falsos, costuma ser algo impossível: eles não atendem ligações nem respondem mensagens. Há casos em que dados flagrantemente falsos, como telefones do tipo “3333-3333”, constam no cadastro do iFood.

Manual do Usuário teve acesso ao diálogo do leitor anônimo com o atendimento do iFood. Na troca de mensagens, o atendimento do iFood não consegue entrar em contato com o restaurante falso — e, ainda assim, este continua na plataforma.

Quando o leitor pergunta como denunciar restaurantes falsos, a orientação dada é fazer uma avaliação negativa do restaurante falso no aplicativo. (Não existe um meio de denunciar restaurantes falsos ao iFood.) O leitor insiste e, em resposta, o atendimento apenas repete a mensagem anterior, esta abaixo:

Se preferir você pode fornecer um feedback ao restaurante através da avaliação do pedido. Assim todas as suas informações ficam registradas.

Cinco telas do aplicativo do iFood, com o diálogo entre leitor anônimo e iFood a respeito do golpe do restaurante falso.
Clique para ampliar. Imagem: Manual do Usuário.

Em alguns casos, o iFood faz o estorno do pagamento, mas não é algo imediato; pode levar até 72 horas para ser efetivado.

O cliente fica frustrado e sem a refeição, a menos que faça um novo pedido em outro estabelecimento.

Avaliação da Flavia, de 1 estrela, no iFood: “não entregou o pedido, não respondeu a mensagem que eu enviei nein a ligação, e olha que esperei quase duas horas pra pergunta se o pedido iria ser entegue, e ainda não estornou o valor cobrado. detalhe quando fiz o pedido estava falando que a entrega iria ser feita pela empresa.”
Imagem: iFood/Reprodução.

No Reclame Aqui, plataforma onde consumidores podem reclamar e receber atendimento das empresas, buscas por “não existe”, “restaurante falso” e afins na página do iFood retornam vários casos.

Um curioso, registrado no dia 31 de maio e referente a outro restaurante de Goiânia (GO) diferente dos mencionados acima, diz que o número de telefone para contato cadastrado pelo restaurante era “33333”, ou seja, falso.

“Acessei o aplicativo agora dia 31 de maio para ver a situação, e o pedido está como entregue e concluído, sendo que não me entregaram nada, não existe o estabelecimento aqui fisicamente, e não me reembolsaram. E além de tudo não consegui ter contato com ninguém do Ifood!”, reclama o consumidor.

A real escala do problema

No dia 22 de maio, Uol reportou o golpe do restaurante falso. A reportagem do portal detectou dez reclamações de dois restaurantes em São Paulo (SP).

A investigação do Manual do Usuário aponta que a escala do problema é um tanto maior, com restaurantes que exibem dezenas ou até centenas de avaliações/reclamações. O Labrasa Grill, de Goiânia (GO), é o mais expressivo, com 712 avaliações e nota 1,0, ainda que não seja possível dizer, com base na interface limitada do iFood, se o restaurante sempre agiu de má fé ou se houve uma guinada no negócio.

Avaliação do Keyth, de 1 estrela, no iFood: “Simplesmente o meu pedido não foi entregue! Liguei 2x no restaurante e deu número inexistente. Mandei mensagem pra eles e não obtive NENHUMA resposta, mesmo 2 horas depois sem o almoço. Agora, descubro que o restaurante é Fake e imita um restaurante do Nordeste até com a mesma logo. Uma vergonha !!”
Imagem: iFood/Reprodução.

Ao Uol, o iFood explicou que novos restaurantes que solicitem o ingresso em sua plataforma precisam enviar “dados como CNPJ ativo, CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), endereço e dados bancários da pessoa jurídica”, e que a empresa possui “um time interno especializado e dedicado para acompanhamento de atividades suspeitas em todo o país” e “tecnologia […] para averiguação de dados”.

Manual do Usuário enviou as seguintes perguntas ao iFood:

  • Quais critérios o iFood avalia antes de permitir a entrada de um restaurante na plataforma?
  • Por que o iFood não oferece um canal de denúncias de restaurantes falsos?
  • De que maneiras o iFood atua para impedir esse tipo de golpe e, quando ele ocorre, auxiliar as vítimas?
  • Como as vítimas devem agir ao serem lesadas por esse golpe?

O iFood não retornou o contato até a data da publicação desta reportagem.

Via Manual do Usuário.




Autor:

Helô Gomes
Helô Gomes é bacharel em jornalismo, premiada nacionalmente com a obra "Cordel de Moda - arte e Cotidiano na feira de Caruaru"; cobriu as principais semanas de moda do circuito Nova York, Londres, Milão, Paris, Rio e São Paulo, publicou e apresentou pesquisas científicas a convite da USP em Dublin, Moscou, Budapeste e Cracóvia, é apaixonada por literatura e arte e no Coletivo Lírico expressa todo seu olhar sobre a moda em forma de objetos de consumo afetivos

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