Leonardo da Vinci em 11 passos

por | 11/07/2018 | arte, clássicos, cultura, humor, newsletter

Leonardo da Vinci foi pintor, escultor, arquiteto, engenheiro militar, mas seu nome ficou para a História ligado à pintura e aqui, vamos dar um rolê pelas suas 11 de suas obras fundamentais – por ordem cronológica, tá? Porque a gente não acredita mesmo em ordem de importância quando o assunto é arte.

1. A Anunciação

Pintada entre os anos 1472 e 1475, A Anunciação é um óleo sobre madeira e representa os primeiros passos de Leonardo na pintura, apesar de nem todos concordarem com o veredito.

Esta obra esteve “escondida” em um mosteiro até 1867 quando foi transferida para a Galleria degli Uffizi, em Florença, sendo a pintura atribuída a Domenico Ghirlandaio, um pintor contemporâneo de Leonardo e também aprendiz na oficina de Verrocchio.

A Anunciação - 0,98 m × 2,17 m - Uffizi
A Anunciação – 0,98 m × 2,17 m – Galleria degli Uffizi, Florença

Mas posteriores estudos e análises à obra dão base à teoria que esta pintura é um dos primeiros trabalhos de Leonardo. Na verdade, terá sido um trabalho realizado em conjunto, pois ao analisar a obra percebeu-se que a base da mesma terá sido executada pelo mestre Verrocchio, assim como a Virgem.

Leonardo terá executado o anjo, o tapete de flores e o fundo (o mar e as montanhas). Isso fica claro na precisão científica com que foram pintadas as asas do anjo, e na descoberta de um desenho preparatório para as mangas do anjo atribuído a Leonardo.

Também parece óbvia a diferença entre a delicadeza do anjo e a majestade quase fria da Virgem. Da mesma forma temos já aqui o uso do claro-escuro e do sfumato. Em termos de tema, temos a representação do momento bíblico em que o anjo visita a Virgem para lhe dizer que ela irá dar à luz o messias, filho de Deus.

2. Retrato de Ginevra de’ Benci

O Retrato de Ginevra de’ Benci foi pintado por Leonardo entre os anos 1474 e 1476. É um óleo sobre madeira e a figura retratada é Ginevra de’ Benci uma jovem aristocrática de Florença, famosa e admirada pela sua inteligência.

A cabeça da jovem encontra-se emoldurada pelas folhas de um arbusto de zimbro, e ao fundo pode contemplar-se uma cuidada paisagem natural.

Retrato de Ginevra de’ Benci
Retrato de Ginevra de’ Benci – 38.1 cm × 37 cm –
National Gallery of Art, Washington, EUA

A expressão da jovem é severa e altiva, e como a maioria das mulheres dessa época, também Ginevra raspou as sobrancelhas.

O tamanho da obra foi encurtado, pois originalmente chegaria até depois da cintura da jovem e incluiria a representação de suas mãos descansando sobre seu regaço.

3. A Virgem das Rochas

A Virgem das Rochas é um óleo sobre madeira e foi executado cerca de 1485. Aqui, as figuras encontram-se à frente de uma gruta e as suas formas estão envoltas em uma bruma (sfumato) que confere à pintura uma característica quase surreal.

Esta composição é um perfeito exemplo do domínio do claro-escuro na pintura de Leonardo, assim como do sfumato.

Virgem das Rochas - 1,90 m x 1,10 m - Louvre, Paris
Virgem das Rochas – 1,90 m x 1,10 m – Louvre, Paris

O tema tratado nesta pintura é único e enigmático, pois temos representados São João em menino a adorar Jesus na presença da Virgem e de um anjo.

O significado desta composição não é de fácil definição, mas talvez o segredo esteja na utilização do gesto (detalhe característico e de grande importância para o artista).

Cada figura está reproduzindo um gesto diferente, e aqui como outras figuras em outras pinturas, o anjo aponta com seu dedo indicador, neste caso não para cima, mas na direção de São João.

Enquanto isso, a Virgem protege a todos, São João está em posição de adoração e o Menino Jesus está benzendo. Que show, amigos. Que show.

4. Homem Vitruviano

Por volta do ano de 1487, Leonardo criou o Homem Vitruviano, um desenho de tinta em papel, de duas figuras masculinas sobrepostas com braços e pernas separadas dentro de um círculo e um quadrado.

Homem Vitruviano
Homem Vitruviano – Gallerie dell’Accademia, Veneza

O desenho está acompanhado de notas baseadas na obra do famoso arquiteto Vitruvius Pollio. É considerado um estudo das proporções e uma perfeita justaposição entre ciência e arte, assim como é um dos trabalhos mais identificativos do artista, cientista e inventor que foi Leonardo da Vinci.

5. Dama com Arminho

A Dama com Arminho é um óleo sobre madeira pintado por volta dos anos 1489-1490 por Leonardo. A figura representada é Cecilia Gallerani, alegadamente uma amante do Duque de Milão, Lodovico Sforza, para quem Leonardo trabalhou.

Dama com Arminho - 54 cm x 39 cm -  Museu Czartoryski, Cracóvia, Polónia
Dama com Arminho – 54 cm x 39 cm –
Museu Czartoryski, Cracóvia, Polónia

Devido a diversas intervenções ao longo dos séculos o fundo original da pintura desapareceu e foi totalmente escurecido, parte do vestido foi acrescentado assim como o cabelo ao redor do queixo.

Análises à pintura revelaram uma porta no fundo original. Além disso descobriu-se também que Leonardo terá mudado de idéias ao pintar a figura e que originalmente a posição dos braços da dama seria diferente e que arminho foi acrescentado posteriormente.

Diferentes versões da Dama com Arminho
Diferentes versões da Dama com Arminho

A sobrevivência desta pintura até aos dias de hoje é quase um milagre pois, desde 1800 quando foi comprada por um príncipe polonês, sofreu diversas re-pinturas, exílio (!!) e esteve em esconderijos devido a invasões e guerras. Em 1939, depois da invasão nazista, a pintura foi encontrada com uma pegada de um soldado das SS. (oloko, né?)

6. La Belle Ferronière

Pintada entre os anos 1490 e 1495, La Belle Ferronière é um óleo sobre madeira. A figura representada será de uma mulher desconhecida, uma filha ou esposa de um ferreiro.

La Belle Ferronière
La Belle Ferronière – 62 cm x 44 cm – Louvre, Paris

Esta pintura é uma dos únicos quatro retratos do pintor, sendo que as outras três são a Mona Lisa, A Dama com Arminho e o Retrato de Ginevra de’ Benci.

7. A Última Ceia

A Última Ceia é uma pintura mural executada por Leonardo entre os anos 1493-1498 na parede do refeitório do Convento de Santa Maria Delle Grazie em Milão.

Esta é a obra que vai dar notoriedade ao artista. Mas, infelizmente, e devido ao fato de Leonardo ter pintado a composição com uma técnica de têmpera de óleo em vez da habitual têmpera de ovo, a obra começou a deteriorar-se pouco depois da sua finalização.

A Última Ceia - 4,6 m x 8,8 m - refeitório do Convento de Santa Maria Delle Grazie, Milão
A Última Ceia – 4,6 m x 8,8 m – refeitório do Convento de Santa Maria Delle Grazie, Milão

Hoje temos que fazer um esforço para imaginar todo o esplendor da pintura original, sendo que é quase um milagre ainda podermos contemplar a obra.

Tal como indica o título, a pintura representa a última ceia entre Cristo e os seus discípulos. O messias encontra-se bem no centro da composição e atrás da sua cabeça situa-se o ponto central de fuga em termos de perspectiva.

Por cima da cabeça de Cristo um frontão exerce a função de uma espécie de auréola, dando mais uma indicação de como a arquitetura nesta pintura serve de apoio às figuras que representam o foco fundamental.

O momento captado será o após Cristo anunciar que um dos seus discípulos o irá trair, algo que se fundamenta na gesticulação agitada das figuras à volta de Cristo em oposição à sua calma e passividade.

8. Salvator Mundi

Salvator Mundi é um óleo sobre tela, possivelmente pintado entre os anos 1490 e 1500, alegadamente para o rei Luís XII de França e sua consorte, Ana, Duquesa da Bretanha.

Durante os anos 1763 até 1900 a pintura esteve desaparecida e acreditou-se ter sido destruída. Depois foi descoberta, restaurada e atribuída a Leonardo, porém, existem muitos estudiosos que consideram essa atribuição como errada.

Salvator Mundi - 45.4 cm × 65.6 cm
Salvator Mundi – 45.4 cm × 65.6 cm

Mas em novembro de 2017 a obra foi a leilão como sendo de Leonardo e foi vendida, para um anônimo comprador, estabelecendo um novo preço recorde para uma obra de arte vendida (450.312.500 de dólares).

A composição apresenta um Cristo salvador do mundo, segurando um globo de cristal com sua mão esquerda e benzendo com a direita. Ele está vestido com trajos tradicionais da Renascença.

9. Mona Lisa

A Mona Lisa (também conhecida como A Gioconda) é um óleo sobre madeira pintado por Leonardo entre 1503-1506. Esta pintura retrata Mona Lisa, a jovem esposa de Francesco de Giocondo, segundo Giorgio Vasari (1511-1574, pintor, arquiteto e biógrafo de vários artistas da renascença italiana).

Esta obra foi adquirida por Francisco I, rei de França desde 1515 até 1547. Em 1911 a pintura foi roubada e recuperada em 1913.

Mona Lisa - 77 cm x 53 cm - Louvre, Paris
Mona Lisa – 77 cm x 53 cm – Louvre, Paris

Sobre esta obra há incontáveis teorias e especulações, mas a verdadeira maravilha da mesma não está apenas no sorriso enigmático, mas na técnica utilizada.

Aqui temos uma introdução à perspectiva atmosférica que tanto vai influenciar o Barroco e Velázquez mais tarde. Neste retrato Leonardo colocou a figura em primeiro plano pintando-a com nitidez enquanto a paisagem é representada de forma suave e progressivamente esfumaçada.

Assim temos a ilusão de afastamento, e olhando a pintura sentimos que a figura feminina está próxima de nós, enquanto a paisagem se afasta, e onde o olhar se perde no horizonte quase não se distinguem mais as formas. Esta é uma perfeita utilização do sfumato e da perspetiva atmosférica (aérea).

Em relação à figura em si, e ao seu famoso sorriso, uma expressão semelhante encontra-se em outras figuras da obra do artista (Santa Ana e São João Batista na Última Ceia, por exemplo).

 

10. A Virgem e o Menino com Santa Ana

Esta pintura, óleo sobre madeira, foi executada em 1510 por Leonardo. Nela estão representadas três figuras bíblicas: Santa Ana, sua filha a Virgem Maria e o menino Jesus. Sendo que o menino segura em suas mãos um cordeiro.

As figuras estão representadas em forma piramidal em frente a um fundo rochoso e pouco definido e onde parte dos contornos de Santa Ana se diluem no sfumato da paisagem.

A Virgem e o Menino com Santa Ana
A Virgem e o Menino com Santa Ana – 1,68 m x 1,12 m – Louvre, Paris

Apesar da composição iconográfica ser de comum representação, o estranho nesta pintura é a posição de Maria, sentada no colo de sua mãe, Santa Ana.

11. São João Batista

São João Batista é um óleo sobre madeira, pintado por Leonardo entre os anos 1513 e 1516. É possível que tenha sido a última obra do artista, já nos últimos anos da Renascença e no início do Maneirismo.

Nesta pintura São João tem o dedo indicador da mão direita apontando para o céu (um gesto fartamente repetido nas obras do artista), talvez reforçando a importância do batismo para a salvação da alma.

Esta representação da figura de São João Batista vai contra todas as demais até então que apresentavam o santo como uma figura magra e feroz.

São João Batista - 69 cm x 57 cm - Louvre, Paris
São João Batista – 69 cm x 57 cm – Louvre, Paris

Aqui ele é representado sobre um fundo escuro e indecifrável, e com traços para muitos mais femininos que masculinos. Sua postura, envolto na pele de cordeiro, é mais de sensualidade, um sedutor, fazendo lembrar as figuras dos sátiros da mitologia grega.

A obra é inquietante e perturbadora. A característica andrógina da pintura de Leonardo fica mais uma vez em evidência nesta obra, assim como o domínio da técnica do claro-escuro. Além disso, esta representação de São João Batista repete o sorriso encontrado em outras figuras como a Mona Lisa ou Santa Ana.

Curiosamente, quando Leonardo aceitou o convite de Francisco I para se mudar para França em 1517, esta pintura, juntamente com a Mona Lisa e A Virgem e o Menino com Santa Ana, foram as três obras que ele decidiu levar consigo.

Biografia

Leonardo (1452–1519) nasceu em uma pequena localidade perto de Florença, Vinci. Como era filho ilegítimo de um notário e uma mulher que provavelmente teria sido uma escrava, ele foi retirado da mãe com apenas 5 anos e com 14 anos entrou para a oficina de Verrochio como aprendiz.

Auto-retrato de Leonardo da Vinci
Auto-retrato de Leonardo da Vinci

Sem sobrenome, passou a ser conhecido como Leonardo da Vinci. O seu nome completo seria Leonardo di ser Piero da Vinci, que significa Leonardo filho de (Mes)ser Piero de Vinci, dado que a paternidade de Leonardo é atribuída a Messer Piero Fruosino di Antonio da Vinci.

Apesar do seu nome ter ficado na história sobretudo ligado à pintura até nós apenas chegaram pouco mais de 2 dúzias de pinturas atribuídas a ele. A razão para isso é que ele não foi um pintor muito prolífero.

Mente curiosa, interessou-se por tudo, mas na verdade não se dedicava plenamente a nada (alá deficit de atenção, nois vê por aqui) Porém, sua maior contribuição e influência na pintura e na arte em geral é inegável e chega até aos dias de hoje.

Para Leonardo a pintura era a arte por excelência, pois o pintor acaba suas obras com o esforço da razão, logo é um intelectual, enquanto o escultor acaba suas obras com o esforço físico. (#frasedefeito)

Esta e outras ideias contribuíram para o desentendimento que durante anos foi alimentado entre Leonardo e Michelangelo (não os tartarugas ninjas, mas os artistas italianos mesmo) para quem a escultura era a arte maior e que considerava a pintura a óleo como algo próprio para mulheres… Deixa Jout Jout ouvir isso…

Davi de Verrocchio
Davi de Andrea del Verrocchio – bronze – Museo Nazionale del Bargello, Florença

Como já foi referido, Leonardo frequentou a oficina de Verrochio enquanto jovem, e consta que apesar de até nós não ter chegado nenhum retrato do jovem Leonardo, que a escultura de Davi de Verrochio contém os traços de Leonardo que em jovem possuíra um porte bastante atraente – se você visse no Tinder dava match, diz aí? Já deu por muito menos…

<3

 




Autor:

Helô Gomes
Helô Gomes é bacharel em jornalismo, premiada nacionalmente com a obra "Cordel de Moda - arte e Cotidiano na feira de Caruaru"; cobriu as principais semanas de moda do circuito Nova York, Londres, Milão, Paris, Rio e São Paulo, publicou e apresentou pesquisas científicas a convite da USP em Dublin, Moscou, Budapeste e Cracóvia, é apaixonada por literatura e arte e no Coletivo Lírico expressa todo seu olhar sobre a moda em forma de objetos de consumo afetivos

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