Acabei de passar por um muro rotina do meu caminho e, pra monotonia da minha alma, vi que colocaram tinta sobre as pichações que ali faziam moradia. Ai, me doeu esse despejo.
Olha só, não posso reclamar: achei muito amor em essepê mas, apesar da cidade ter parentesco com outras metrópoles internacionais quanto a serviços e produtos, tem uma coisa que faz uma tremenda falta pro coração da Helozita aqui: a cultura de rua.
Hong Kong, Paris, Londres, Nova York, todas têm em comum mais do que riqueza aparente: têm arte aparente. Qualquer metrô tem Jazz, qualquer muro tem Poeta e qualquer paralelepípido vira palco pra artistas amadores. Todo lugar funciona pra demonstração de talento e pra troca de emoção. Para a cidade, seus moradores e passantes é um presente. Pros artistas, um trabalho como outro qualquer. Duvido que uma pessoa não chegue mais feliz no trabalho ao cruzar com um Miles Daves no sax de um anônimo ou com uma leitura inesperada de um aforismo-auto-ajuda saltando de uma parede colorida.
O Brasil tem uma cultura tão rica e, culpa nossa, arte de rua acaba sendo Carnaval em fevereiro ou pagode de domingo.
Seu Prefeito, eu até aceito a Tietê e a Pinheiros com limite de velocidade de 50km/h desde que você não despoetize meu caminho. Carro mais devagar, ok. Agora, desacelerar meu coração?! Tudo tem limite! Infração gravíssima. Se essa cidade, se essa cidade fosse minha, eu mandava, eu mandava marginalizar. Com intervenções, músicas e poetas bem brilhantes, só pra ver, só pra ver minha alma transbordar…
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