Política Internacional: como eu vim parar aqui?

por | 5/11/2022 | 2022, cultura, história, literatura, prosa & poesia

A história mundial contemporânea, que iniciou no último terço do século XVII, apresenta-se como uma sucessão de sistemas mundiais intercaladas por fases de transição e configuração de novas lideranças. Como foi dito antes, elas se fundamentam nos paradigmas econômicos, sociais, políticos, culturais e tecnológicos de cada formação econômica social.

Assim, de 1779 (ano de independência dos Estados Unidos e da publicação do livro Riqueza das Nações, de Adam Smith) a 1890, a PAX BRITANICA foi embasada na Revolução Industrial e regulada pelo liberalismo, dando início ao mundo dominado pelas potências anglo-saxônicas.

O Congresso de Viena substitui o conceito de monarquia dinástica pelo de potência. Enquanto a potência inglesa dominava o sistema mundial através da supremacia marítima e comercial, a Europa continental permanecia num sistema de equilíbrio de poderes entre França, Austria, Prússia e Rússia. A Inglaterra era fiel dessa balança de poder e acesso dos países europeus do resto do mundo dependia, direta ou indiretamente, da boa vontade inglesa.

Mas o advento da II Revolução Industrial, desde os anos 1870, bem como dos novos países competidores e do paradigma fordista, conduziram ao desgaste da hegemonia inglesa no final do século XIX.

A partir de 1890 tem então início uma fase de crise de transição, marcado pelo acirramento do imperialismo, com a patilha do mundo afro-asiático, pela formação dos blocos militares antagônicos, por duas guerras mundiais, por uma Grande Depressão de alcance planetário e pela ascensão do nazifascismo e do comunismo, que de movimento social se transforma em regime político.

Foram mais de cinco décadas de crise e disputa por uma nova liderança entre potências e projetos de ordem mudial e de modelo de sociedade.

O poema José de Carlos Drummond de Andrade foi publicado originalmente em 1942, na coletânea Poesias. Ilustra o sentimento de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar.

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?




Autor:

Helô Gomes
Helô Gomes é bacharel em jornalismo, premiada nacionalmente com a obra "Cordel de Moda - arte e Cotidiano na feira de Caruaru"; cobriu as principais semanas de moda do circuito Nova York, Londres, Milão, Paris, Rio e São Paulo, publicou e apresentou pesquisas científicas a convite da USP em Dublin, Moscou, Budapeste e Cracóvia, é apaixonada por literatura e arte e no Coletivo Lírico expressa todo seu olhar sobre a moda em forma de objetos de consumo afetivos

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