Gilles Lipovetsky, filósofo francês, teórico da Hipermodernidade, apresenta as principais teorias que circundam a cultura material e a moda, como um destino das sociedades modernas.
Ambas pensadas como fenomenologia onipresente na atualidade, exprimem para Lipovetsky, uma forte vinculação de sedimentação social. Em outras palavras, sua abordagem de significações sociais é estruturada segundo a estratificação dos valores pós industriais e em uma relação sistêmica individuo > sociedade.

Com base em uma concepção histórica de fundo idealista (hegeliano), apresenta de forma veemente em suas obras, uma dicotomia entre história social e história cultural.
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“História Cultural e História Social” é um artigo de Silvia Hunold Lara, do departamento de História do IFCH/UNICAMP. Este artigo trata das formas de abordagens históricas, tendo como central as análises da história cultural e da história social e como estas estão ligadas. O texto cita o ponto de vista de diversos autores sobre o tema, como Eric Hobsbawm, Thompson, Ginzburg, Darnton e etc. Segue abaixo o resumo da obra.
Nos últimos tempos temos visto uma crescente preocupação no que se trata a abordagem histórica do ponto de vista cultural. Mas dificilmente conseguiremos ver um consenso em torno deste termo, pois além das divergências sobre o significado da palavra cultura, há outras discordâncias sobre a abordagem, a formulação de problemas, a utilização das fontes e etc.
Um destes pensadores, Peter Burke, propôs uma nova história cultural, mais ligada ao cotidiano e preocupada com as diversidades. Já Ginzburg, defendeu uma análise ligada às questões das classes sociais. Por sua vez, Darnton buscou analisar o que havia de incomum, o que interligava as diferenças. A questão central deste debate parece ser a forma de abordar as divergências existentes entre as correntes historiográficas e as diferenças das sociedades que são objeto de estudo.
Alguns historiadores, como Thompson, afirmam que as pessoas compartilham experiências, são forçadas a achar soluções, compartilhar problemas, se confrontar. Tudo isso gera uma idéia na cabeça de cada um, que de acordo com as experiências vividas com parte do coletivo, se identificam ou se rejeitam. As manifestações no campo das idéias são reflexos das experiências concretas.
O estudo do choque entre culturas distintas é bem valioso para tirarmos conclusões sobre o tema. O estudo das relações entre os povos no Brasil colonial e as diferenças entre os diversos grupos é um bom exemplo.
Nos últimos tempos a questão da cultura passou a ser mais discutida, assim como questões referentes às fontes históricas e os demais meios necessários para alcançarmos informações sobre uma sociedade específica. Se quisermos realmente resolver essas questões, não podemos mais ter abordagens simplistas, superficiais, temos que analisar todos os aspectos da sociedade em questão, se preocupar com as diversas manifestações e pontos de vista, não podemos nos acomodar, temos que ter bons problemas para fazermos uma boa história.
A luta de classes como centro de tudo que há na sociedade é real, porém, esta luta se dá em diversos campos, não só no econômico, que apesar de ser a base dessa luta, não é o único. Os conflitos entre as classes também se manifestam no campo das idéias, um dos principais instrumentos de dominação de uma classe por outra. As diversidades culturais surgem de diversas formas de se relacionar com o ambiente, diferenças étnicas, geográficas, etc. Mas a sua promoção, seu enraizamento na sociedade, se dá em como pode ser utilizada por uma classe, tanto na dominação quanto na resistência, muitas vezes de forma espontânea, indireta.
Acho que o abandono do estudo de um “campo” da sociedade é sempre muito prejudicial, o próprio marxismo é vitima disso no ocidente, no qual o estudo das relações culturais tem se tornado muito mais importante do que o estudo da economia. Ampliar os horizontes não deve ser abandonar um para conhecer outro, pois isso é deixar ser levado por tendências históricas, determinadas por um período com necessidades distintas, mas sim, ampliar, conhecer mais do que se conhece, ligando tudo para conseguir montar algo cada vez mais próximo da realidade.
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Silvia Hudolf Lara é doutora, possui graduação em história pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Centro de Pesquisa em História Social da Cultura, na UNICAMP é especialista no que concerne ao estudo nas questões afro-descendentes. Entre suas obras estão: Fragmentos setecentistas: Escravidão, cultura e poder na América portuguesa; Ordenações Filipinas; Direitos e Justiças no Brasil: Ensaios de história social; Na perspectiva dos escravos entre outras.
Ou seja, para ele quaisquer fenômenos que se relacionem com a cultura material, e logo a moda, ocorrem pelo advento da industrialização e em um paralelo onde se pode por meio desses fenômenos, se estudar tanto o indivíduo quanto a sociedade em que ele está inserido.
Gilles ainda defende que a cultura material que data determinado período da história parte do pressuposto que há uma dominação de arquétipos sociais, e por conseguinte, de consumos conspícuos. As “condições sociais de emergência da moda” são, então, a noção esboçada para evitar as interpretações mecanicistas e deterministas em análise social mas ao preço de “separar” definitivamente relações sociais e produção de sentido (neste caso, especificamente, de valores culturais), (ALMEIDA, 1995).
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