Melhore sua ansiedade com Machado de Assis

Melhore sua ansiedade com Machado de Assis

Estava eu aqui em meio às minhas leituras, quando me deparo com um interessante trecho de Machado de Assis,

separei pra vocês:

Capítulo XI, página 29, Quincas Borba, Machado de Assis:

No começo da semana seguinte, recebendo os jornais da Côrte (ainda assinaturas de Quincas Borba) leu Rubião esta notícia em um dêles:

“Faleceu ontem o Sr. Joaquim Borba dos Santos, tendo suportado a moléstia com singular filosofia. Era homem de muito saber, e cansava-se em batalhar contra esse pessimismo amarelo e enfezado que ainda há de nos chegar aqui um dia; é a moléstia do século. A última palavra dêle foi que a dor era uma ilusão, e que Pangloss não era tolo como o inculcou Voltaire… Já então delirava. Deixa muitos bens. O testamento está em Barbacena”.

Pangloss é um dos meus personagens favoritos da literatura mundial: é o otimista convicto da obra Cândido ou o Otimismo, de Voltaire, que faz um retrato satírico de seu tempo. 

Escrito em 1758, a obra situa o leitor entre fatos históricos como o terremoto que arrasou Lisboa em 1755 e a Guerra dos Sete Anos (1756-63), enquanto critica com bom-humor as regalias da nobreza, a intolerância religiosa e os absurdos da Santa Inquisição. Machado de Assis sabia da importância da obra, daí a referência. 

No livro – que, aliás, eu indico fortemente a leitura, não importa o que aconteça, Pangloss sempre acha um motivo para ver a situação como positiva. Dono de um otimismo caricatural, repete ao longo da narrativa o bordão “Tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos”, mesmo diante das maiores desgraças e sofrimentos.

Recomendo a leitura pois parece que o mal do século passado “o pessimismo amarelo e enfezado” parece ter sido transmitido também para nossos Tempos: a ansiedade é uma emoção normal que representa um “sinal de alarme” ao perigo ou ameaça real ou imaginária, representando um fator evolutivo de proteção. No entanto, quando exacerbada e desproporcional, pode constituir um problema de saúde que deve ser tratado. 

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população. Há também um enorme alerta sobre a saúde mental dos brasileiros, já que uma em cada quatro pessoas no país sofrerá com algum transtorno mental ao longo da vida. Sério, não?

E se a gente for pensar bem, adiantar “problemas” mentalmente é uma forma que nosso cérebro utiliza para não ser pego de surpresa pela vida, mas, ao mesmo tempo, nos tira o que temos de mais precioso, como diria Pangloss: o presente do presente – sem pleonasmo. 

De nada vale aprender a viver apenas no dia de nossa morte. ;) 

Em tempo: O Doutor Pangloss, figura criada para debochar o idealismo clássico alemão, é personagem da obra Candide, ou l’optimisme, no original), de Voltaire (1694-1778), foi citado por Machado de Assis ao todo por 6 vezes, sendo elas: 

Mágica para o final do ano: abolir o “se”

Mágica para o final do ano: abolir o “se”

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.

“Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada)”

“topado aquele emprego”

“completado aquele curso”

“chegado antes”

“chegado depois”

“dito sim”, “dito não”, “ido para Londrina”, “casado com a Doralice”,”feito aquele teste”


Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do bar é Imaginário – sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:
– Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.
– Por quê? Sua vida não foi melhor do que a minha?
– Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia..
– Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.
Olhamos para o intrometido… Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:
– Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
– Como é que você sabe?
– Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me tirei… Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante…

Ele chutaria para fora. Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou.

– Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio…
– E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.
– Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?
– Você…
– Morri com 28 anos.
– Bem que tínhamos notado sua palidez.
– Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo…
– E ter levado o chute na cabeça…
– Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado…
– Você deve estar brincando.
Disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.
– Quem é você?
– Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.
Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.
– Quem é você? – perguntei.
– Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
– E..?

Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo.

Luis Fernando Veríssimo

1936 – Porto Alegre

um copo de água de felicidade, obrigada.

Eu admiro gente que sabe contemplar o mundo e situações. Pra mim, são os melhores tipos de alma: aquelas capazes de se desconectarem de causas e efeitos e simplesmente estarem ali, de corpo e pensamentos presentes. 

Parece fácil não pensar em nada por um momento, mas é uma das tarefas mais inteligentes que o ser humano é capaz de executar. O exercício de se fazer presente, de saborear cada respiro que a vida te oferece ali: seja em um gole de água gelada para matar uma sede, em um banho quentinho para tirar o peso do dia, em um abraço sincero (nem longo nem demorado, mas que dure o tempo exato da troca do afeto que lhe cabe); ou na escolha de um emoji ou figurinha específica que foi enviada não porque estava nas mais usada recentemente. 

Pra mim, pessoas que têm a capacidade contemplativa geralmente são seres humanos cheios de gratidão no peito. Mas não aquele misticismo alienado, tá?! Muito pelo contrário: são pessoas dotadas da Fé no momento, da crença na Beleza da eternidade de uma palavra, de um gesto, de um olhar. Pessoas banhadas na Sabedoria da presença de espírito do timing da vida. Do Humor, do Amor. 

Essas pessoas normalmente não repetem frases ou pratos em restaurantes. Arriscam todas as vezes; petiscam frequentemente; vencem sempre, pois superam o Inimigo mais devastador e silencioso que existe: o tédio. 

Cerque-se de pessoas que possam te dar o que elas têm de mais valioso: o Tempo delas. Sorriso garantido ou sua poesia de volta.

no meio do caminho tinha uma arte, tinha uma arte no meio do caminho

Acabei de passar por um muro rotina do meu caminho e, pra monotonia da minha alma, vi que colocaram tinta sobre as pichações que ali faziam moradia. Ai, me doeu esse despejo.

Olha só, não posso reclamar: achei muito amor em essepê mas, apesar da cidade ter parentesco com outras metrópoles internacionais quanto a serviços e produtos, tem uma coisa que faz uma tremenda falta pro coração da Helozita aqui: a cultura de rua.

Hong Kong, Paris, Londres, Nova York, todas têm em comum mais do que riqueza aparente: têm arte aparente. Qualquer metrô tem Jazz, qualquer muro tem Poeta e qualquer paralelepípido vira palco pra artistas amadores. Todo lugar funciona pra demonstração de talento e pra troca de emoção. Para a cidade, seus moradores e passantes é um presente. Pros artistas, um trabalho como outro qualquer. Duvido que uma pessoa não chegue mais feliz no trabalho ao cruzar com um Miles Daves no sax de um anônimo ou com uma leitura inesperada de um aforismo-auto-ajuda saltando de uma parede colorida.

O Brasil tem uma cultura tão rica e, culpa nossa, arte de rua acaba sendo Carnaval em fevereiro ou pagode de domingo.

Seu Prefeito, eu até aceito a Tietê e a Pinheiros com limite de velocidade de 50km/h desde que você não despoetize meu caminho. Carro mais devagar, ok. Agora, desacelerar meu coração?! Tudo tem limite! Infração gravíssima. Se essa cidade, se essa cidade fosse minha, eu mandava, eu mandava marginalizar. Com intervenções, músicas e poetas bem brilhantes, só pra ver, só pra ver minha alma transbordar…

Carrinho0
Não há produtos no carrinho!
0
Abrir bate-papo
Comprar pelo WhatsApp
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?