literatura brasileira: 14 romances pra vc ler e se apaixonar (por si mesmo, pela vida, pelos autores…)

Fizemos uma lista dos romances essenciais da literatura brasileira:  aqueles que ajudaram a formar a nossa tradição literária, são estudados e conhecidos em todo mundo e estão praticamente em todas as provas de conhecimento sobre literatura.

Mas não só isso: indicamos alguns livros mais contemporâneos que também são muito importantes para a literatura nacional e outros que não são romances, mas também marcaram história. #partiu?

1) Dom Casmurro (1889), de Machado de Assis

dom casmurro - coletivolirico- livros importantes da literatura brasileira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Difícil seria começar essa lista com um romance diferente: Dom Casmurro é considerado por especialistas o maior romance da literatura nacional. A história de amor e tragédia do triângulo Bentinho, Capitu e Escobar é envolvente do começo ao fim, cheia de detalhes e reflexões e expõe o lado mais genial do autor.

Por que você deveria ler?

Além de ser uma excelente pedida para quem gosta de ler sobre as desventuras do amor (e outras coisas mais), é a obra machadiana mais característica. E, afinal, todo mundo quer ter a sua própria para resposta para “Capitu traiu ou não traiu Bentinho?”

“Dizem por ai, mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza”

Machado de Assis em Dom Casmurro

Não dá para não citar: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Também um clássico de Machado de Assis, é talvez a história mais incrível que você lerá da perspectiva de um defunto. É engraçado, inteligente, irônico e inovador! Não se assuste com o fato de ter sido lançada há mais de 100 anos. Memórias Póstumas é desses livros atemporais que encantam qualquer um.

2) Macunaíma (1928), de Mário de Andrade

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O conhecido “herói sem nenhum caráter” já virou filme, inspirou novelas, peças de teatro e outras inúmeras expressões artísticas. O protagonista é um homem nacional com uma identidade muito particular, que mistura comédia, malandragem e preguiça. As aventuras do herói tornaram-se muito importantes por retratar as várias facetas do caráter brasileiro.

Por que você deveria ler?

Se aventura e humor fazem o seu tipo, este é o livro certo. A linguagem falada é muito interessante e o livro oferece um rico retrato da cultura folclórica brasileira.

3) Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos

livros importantes da literatura brasileira

São quadros da realidade de pessoas que têm que migrar de canto em canto fugindo da seca do sertão brasileiro. Os nordestinos, protagonistas dessa história, são castigados na busca por uma vida melhor e o livro traça, em forma de capítulos não lineares, uma obra-prima da literatura regionalista nacional.

Por que você deveria ler?

Você com certeza vai se emocionar com a história dessa família nordestina, mas não só isso: o livro é tão inteligente que monta um quebra cabeça com seus capítulos e, se quiser, você pode ler um por vez, com a maior calma do mundo, ou seja: não há desculpa para começar já.

Cinco sombras caminhavam naquele leito seco. Percorriam um calvário como Jesus, açoitados pela fome, pela miséria. Coisa séria.

Graciliano Ramos em Vidas Secas

4) Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), de Lima Barreto

livros importantes da literatura brasileira

Muitos críticos encaram a história do protagonista Quaresma como um reflexo do próprio Lima Barreto. Ele foi filho de pai português com uma mãe escravizada e sofreu por toda vida com uma sociedade que não o aceitava. Policarpo, major aposentado, era tão nacionalista que acabou por ser tomado como louco: viveu rejeitado e vítima de seus próprios ideais.

Por que você deveria ler?

Um livro que retrata bem a política nacional pós-escravidão, no final do século XIX e começo do XX. Se você gosta de política e história, vai se deliciar com este romance que debate questões políticas e de identidade nacional.

5) Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa

livros importantes da literatura brasileira

Nesta epopéia da literatura brasileira, o sertão é o mundo. É narrada por Riobaldo, um ex-jagunço que filosofa sobre a vida, sobre o sertão, sobre as guerras que viveu e um amor perdido: Diadorim, mulher que se travestia de homem para conseguir viver entre os jagunços.

Por que você deveria ler?

O livro é uma verdadeira enciclopédia do sertão, a linguagem é encantadora e as aventuras de Riobaldo formam um verdadeiro labirinto literário que você não vai querer sair. Se você gosta de histórias longas, com muitos personagens e reviravoltas, vai amar Grande Sertão Veredas.

A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho.

Guimarães Rosas em Grande Sertão Veredas

6) A Pedra do Reino (1971), Ariano Suassuna

livros importantes da literatura brasileira

O nome inteiro da obra é, na verdade, Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. O título denuncia a monumentalidade da escrita de Suassuna, que na época de seu lançamento foi considerada um marco na literatura nordestina. O narrador está preso e tenta argumentar a sua defesa contando a história de sua família, supostamente descendente de reis.

Por que você deveria ler?

O livro é pura cultura popular brasileira. Ao melhor estilo O Auto da Compadecida. Já foi adaptado para o cinema, teatro e televisão e é uma mistura de diversão e cultura, gostoso de ler. Além disso, também tem uma boa dose de magia: se você gosta de histórias míticas e fantásticas, não pode perder!

7) O Cortiço (1890), de Aluísio de Azevedo

livros importantes da literatura brasileira

A realidade miserável e tumultuada das famílias cariocas no século XIX é o pano de fundo para este romance clássico. O Cortiço é o precursor da vida nas favelas do Rio de Janeiro e fala sobre exploração social, racismo e outros temas críticos.

Por que você deveria ler?

É peça chave para entender o Brasil do século XIX e o movimento naturalista, que ressalta os instintos naturais dos personagens. Se você tem interesse em crítica social, este romance irá te dar o cenário perfeito para reflexões.

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo.

Aluísio de Azevedo em O Cortiço

8) O Quinze (1930), de Rachel de Queiroz

livros importantes da literatura brasileira

A autora tinha apenas 19 anos quando escreveu esse romance que se tornou um clássico. A seca de 1915 no Ceará é o cenário para contar as histórias de duas famílias que vivem uma grande desigualdade social no nordeste. A saga da família de Chico Bento e a história de amor entre Vicente e Conceição cativam o leitor do início ao fim da leitura.

Por que você deveria ler?

A linguagem é simples, o regionalismo está presente de forma muito bonita e o livro é também sobre a emancipação das mulheres. Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a receber o Prêmio Camões, por esta obra. É motivo o suficiente ou não é?

9) O Guarani (1857), de José de Alencar

livros importantes da literatura brasileira

É uma história que conta a fundação do Brasil como enxergava José de Alencar: a mistura do índio com o branco, da cidade e o campo. Peri é o índio e herói nacional cheio de virtudes que se apaixona por Ceci, a portuguesa branca, pura e perfeita. Os personagens que cercam a história também têm papéis alegóricos que representam o Brasil pós-colonial.

Por que você deveria ler?

Importante para entender a realidade brasileira do século XVII e também é uma história envolvente, que foi construída com ajuda de leitores: lançada originalmente no formato de folhetim, José de Alencar foi moldando o romance conforme as críticas das pessoas que iam lendo a história de Peri e Ceci no jornal. Isso concede à narrativa uma autenticidade clara.

Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor de gardênia dos nossos campos, orvalhada pelo sereno da noite, o hálito doce e ligeiro exalava-se formando um sorriso. Sua tez alva e pura como um froco de algodão, tingia-se nas faces de um longe cor-de-rosa, que iam, desmaiando, morrer no colo de linhas suaves e delicadas.

José de Alencar em O Guarani

10) A Rosa do Povo (1945), de Carlos Drummond de Andrade

livros importantes da literatura brasileira

São 55 poemas que expressam o melhor do mais renomado poeta brasileiro. Mesmo sendo um livro de poesia, A Rosa do Povo sempre figura na lista dos livros importantes da literatura nacional porque trata de temas como o pós-Segunda Guerra, a vida na cidade, o amor e a morte. Rio de Janeiro é o pano de fundo para esses versos que são uma obra-prima do autor.

Por que você deveria ler?

Qualquer pessoa que gosta de poesia deveria ler esta obra, não só por ser uma das mais importantes, mas também porque é bela, profunda, e muito diversa. É um desses livros que vale a pena ter na cabeceira.

11) A Paixão Segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector

livros importantes da literatura brasileira

Pobre menina rica, já ouviu essa expressão? É mais ou menos o que define a protagonista desse romance, G.H., uma mulher bem sucedida, mas que conhece muito pouco de si mesma. No decorrer das páginas, ela mergulha em seus próprios pensamentos para tentar se encontrar e refletir sobre sua relação íntima consigo e com a vida.

Por que você deveria ler?

A narrativa psicológica que se tornou uma marca de Clarice Lispector é muito bem desenvolvida neste livro, que pode gerar reflexões profundas no leitor. Se o que você está procurando é uma leitura que vai te causar questionamentos, mudanças e burburinhos no interior, este é o livro certo.

Todo momento de ‘falta de sentido’ é exatamente a assustadora certeza de que ali há o sentido, e que não somente eu não alcanço, como não quero, porque não tenho garantias.

Clarice Lispector em A Paixão Segundo G.H.

Não dá para não citar: A Hora da Estrela (1977).

O último livro publicado de Clarice e um dos mais conhecidos conta a história de Macabéa, uma garota nordestina que tenta sobreviver na cidade. É também um livro que filosofa sobre a vida, a arte e o próprio ato de escrever. Indispensável para quem gosta de praticar escrita

12) As Meninas (1973), de Lygia Fagundes Telles

livros importantes da literatura brasileira

A história de Ana Clara, Lia e Lorena, meninas que estão saindo da adolescência e entrando nos conflitos amorosos, políticos e sociais de uma sociedade que vive em plena ditadura militar. Por se passar em um pensionato de freiras, a história ganha ainda mais emoção, pois gera um conflito social que mistura solidão, aventura e defesa de liberdade.

Por que você deveria ler?

Fundamental para ter uma ideia de como era a sociedade brasileira na época da ditadura. Você vai se apaixonar pela individualidade das meninas e pela trajetória cheia de reviravoltas que elas traçam. A miséria política e cultural da época é passada através de uma linguagem simples e muito fácil de entender. É para ler num piscar de olhos!

13) Morte e Vida Severina (1967), de João Cabral de Melo Neto

livros importantes da literatura brasileira

Mais uma obra que trata do tema da seca, dos retirantes e da miséria. Mas desta vez, em forma de poema! Dividido em 18 partes, a obra conta a trajetória de Severino, que deixa o sertão em busca de melhores condições de vida no litoral, e os personagens, também sofridos e “severinos” que ele encontra no caminho.

Por que você deveria ler?

Se você nunca teve contato com a literatura de cordel, com poemas grandes e narrativas poéticas dramáticas, sugerimos começar por este. É um texto que transborda emoção e que consagrou o autor nacional e internacionalmente.

e aí, qual o próximo da sua lista de cabeceira?

dia dos namorados: os 15 poemas de amor da literatura brasileira pra você copiar, colar e brilhar

É bastante provável que os primeiros versos tenham brotado da boca de um apaixonado, jamais saberemos. A verdade incontornável é que o amor é tema recorrente entre os poetas e alvo de interesse constante entre os leitores.

Se você não é poeta, mas sente vontade de gritar para o mundo – e para o seu amado – versos apaixonados, nós damos uma ajudinha! Selecionamos aqui os quinze maiores poemas de amor da literatura brasileira publicados. A tarefa não foi nada fácil, a poesia nacional é riquíssima e cada um dos autores escolhidos facilmente poderia ter outros belos poemas incluídos nessa lista.

Para tentar cobrir uma boa parte da nossa história literária, passeamos pelos antigos Álvares de Azevedo e Olavo Bilac até alcançarmos os contemporâneos Paulo Leminski e Chico Buarque.

Boa leitura e compartilhem com os seus amados!

      1. Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes

Pesquisar os livros do poetinha, como ficou conhecido Vinícius de Moraes, é se deparar com um manancial de poemas de amor. Apaixonado pela vida e pelas mulheres, Vinícius casou-se nove vezes e escreveu uma série de versos apaixonados. O poema mais conhecido talvez seja o Soneto da Fidelidade. 

O Soneto do amor total foi escolhido porque tem uma delicadeza ímpar e ilustra com precisão as várias facetas de uma relação amorosa.

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

      2. Tenta-me de novo, de Hilda Hilst

Hilda Hilst também é um nome incontornável quando se pensa em amor na poesia brasileira. A escritora paulista escreveu versos que vão desde a escrita erótica até a lírica idealizada.

Quando se pensa em poesia de amor, o mais frequente é que se imagine versos de uma relação jovem. Tenta-me de novo é um dos raros poemas que trata de um amor que já acabou e de um amante que deseja conquistar o afeto de volta.

Tenta-me de novo

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

      3. Canção, de Cecília Meireles

Em apenas quinze versos, Cecília Meireles consegue compor na sua Canção uma ode à urgência do amor. Singelo e direto, os versos convocam o retorno do amado. O poema, presente no livro Retrato natural (1949), também conjuga elementos recorrentes na lírica da poetisa: a finitude do tempo, a transitoriedade do amor, o movimento do vento.

Canção

Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…

CM

      4. As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade

Celebrado como um dos melhores poemas da literatura brasileira, As sem-razões do amor trata da espontaneidade do amor. De acordo com o eu lírico, o amor arrebata e arrasta o amador independente da atitude do parceiro. O próprio título do poema já indica como os versos irão se desdobrar: o amor não exige troca, não é resultado do merecimento e não pode ser definido.

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

5. XXX, de Olavo Bilac

O poema de amor provavelmente mais citado de Bilac é Via Láctea, um clássico aprendido nos tempos de escola. Os versos abaixo, no entanto, apesar de pouco conhecidos, são também uma obra prima do autor. O poeta, que atuou como jornalista, foi um dos maiores representantes do movimento Parnasiano no Brasil e a sua lírica é marcada pela metrificação e pela representação de um sentimento idealizado.

XXX

Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.

OB

6. Futuros amantes, de Chico Buarque

O mais conhecido letrista brasileiro tem uma série de versos dedicados ao amor. São tantos que é até criminoso selecionar apenas um poema do manancial de belezas já escritas. No entanto, diante do desafio, escolhemos Futuros amantes, um daqueles clássicos que nunca perde a validade.

Futuros amantes

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

 

       7. Meu destino, de Cora Coralina

Singelo e cotidiano, Meu destino, da goiana Cora Coralina, merece elogios pela maneira simples e sutil com que relata o encontro amoroso. A poetisa, com a delicadeza dos versos que compõe, faz parecer fácil construir uma relação de afeto duradoura. Meu destino conta uma pequena fábula: a história de duas pessoas que se conheceram e resolvem construir uma relação.

Meu destino

Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…

      8. Teresa, de Manuel Bandeira

Teresa é um dos poemas mais marcantes do modernismo brasileiro, todos nós, provavelmente, fomos apresentados a esses versos ainda na escola.

Teresa consta nessa lista porque é um dos poucos poemas de amor capaz de conter traços de humor. A comicidade de Bandeira surge com a descrição da reação durante o primeiro encontro do casal. Os versos depois se encarregam de mostrar como o relacionamento se transforma e a percepção em relação a amada muda.

Teresa

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

 

       9. Bilhete, de Mário Quintana

A delicadeza do poema de Mário Quintana começa já no título: Bilhete anuncia um tipo de recado direto, apenas partilhado entre os amantes. Os versos fazem uma elegia ao amor discreto, sem grandes alardes, partilhado unicamente entre os apaixonados.

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

     10. Amar você é coisa de minutos…, de Paulo Leminski

Os versos livres de Leminski são direcionados diretamente à amada e seguem o tom de uma conversa. Apesar de ser um poema contemporâneo, os versos parecem anacrônicos porque prometem uma fidelidade total e absoluta seguindo os moldes do amor romântico.

Amar você é coisa de minutos…

Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui

      11. Amor, de Álvares de Azevedo

Amor, de Álvares de Azevedo, é um clássico poema da geração romântica brasileira. Seus versos ilustram uma época e uma postura de devoção, quase idealizada, entre um homem apaixonado e uma mulher que é basicamente contemplada.

Embora o poema seja, de certa forma, o retrato de uma época, os versos são tão bem compostos que transcendem o tempo.

Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

 

      12. Cantiga para não morrer, de Ferreira Gullar

Um dos maiores poetas da literatura brasileira, Ferreira Gullar, ficou mais conhecido por seus versos políticos e de cunho social. No entanto, também é possível encontrar em sua poética trabalhos dedicados ao amor, pérolas pontuais como Cantiga para não morrer. Apesar de ser um autor contemporâneo, Gullar usa alguns traços românticos em seu poema.

O afeto pela amada é tão grande e transbordante que o eu lírico pede que ele permaneça com ela em seu pensamento, mesmo que sob a forma de esquecimento.

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

      13. Casamento, de Adélia Prado

Os versos de Adélia Prado celebram o casamento, as relações cotidianas e de longo prazo. Contado quase como uma espécie de historinha, o poema mostra detalhes da intimidade da vida a dois e os pequenos afetos que se escondem na rotina do par. Chama a atenção do leitor a beleza com que é realçada a cumplicidade do casal.

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difícil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

      14. Beijo eterno, de Castro Alves

O poema abaixo é um dos mais importantes exemplares da poesia romântica brasileira. Castro Alves pinta em sua lírica um amor pleno, idealizado e eterno. No entanto, como pertence à terceira fase do Romantismo, Castro Alves já inclui em seus versos alguma sensualidade relacionada à amada.

Beijo eterno

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

Fora, repouse em paz
Dormindo em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa,
Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!

Diz tua boca: “Vem!”
Inda mais! diz a minha, a soluçar… Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
“Morde também!”
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

      15. O amor comeu meu nome, de João Cabral de Melo Neto

O poema abaixo é um dos mais belos monumentos ao amor presente na literatura brasileira. João Cabral de Melo Neto consegue descrever com precisão, em algumas linhas, como é estar apaixonado, como o sentimento de amor se apossa do sujeito e se alastra na vida cotidiana.

 

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu
retrato. O amor comeu minha certidão de idade,
minha genealogia, meu endereço. O amor comeu
meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos
os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas
camisas. O amor comeu metros e metros de
gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o
número de meus sapatos, o tamanho de meus
chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a
cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas
médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,
minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus
testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de
poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações
em verso. Comeu no dicionário as palavras que
poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso:
pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto
ainda, o amor devorou o uso de
meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada
no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto
mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu
a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de
propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos
que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde
irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta,
cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas.
O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos,
e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua
chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba
de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam
sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas
de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a
água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os
mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde
ácido das plantas de cana cobrindo os morros
regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo
trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de
cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de
que eu desesperava por não saber falar
delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas
folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de
meu relógio, os anos que as linhas de minha mão
asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro
grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da
terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e
minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu
silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

 

 

Ufa!

Haja lenço de papel e rivotril pra tanto bem querer!

Fonte: Cultura Genial

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