uma análise da obra: A Persistência da Memória de Salvador Dalí

por | 18/05/2018 | arte, cultura, newsletter

A Persistência da Memória é um quadro do pintor surrealista Salvador Dalí, produzido em menos de cinco horas, com dimensões pequenas de 24cm x 33cm, em 1931.

Dalí estava indisposto para ir ao cinema com sua mulher e amigos e, nesse tempo que ficou em casa, pintou um dos quadros mais famosos da história da arte. A obra está exposta no Museu de Arte Moderna (MoMa), em Nova York, desde 1934.

A persistência da memória

O surrealismo é uma escola artística que nasce na literatura e que prega uma grande liberdade na criação. Afastando-se do formalismo e buscando no inconsciente, no que foge à realidade, a sua matéria-prima.

O termo foi cunhado por André Breton e se encontra no contexto dos movimentos modernistas europeus. Com forte influência das teorias psicanalíticas de Freud, o surrealismo tenta se afastar da lógica e da razão nas produções artísticas.

O resultado é uma arte simbólica, cheia de elementos que saem da racionalidade, despindo objetos cotidianos de sua lógica normal.

Interpretação e significado

As obras de cunho surrealista dão margem à diversas interpretações já que são carregadas de simbolismos e possuem poucas representações diretas da realidade. A Persistência da Memória nos fala sobre a noção da temporalidade e da memória.

Objetos

Os relógios “derretidos”

relogio

Os relógios que se derretem representam um tempo que passa de forma diferente. Ao contrário dos relógios normais, que marcam com precisão a passagem dos segundos, estes relógios de Dalí possuem marcações diferentes pois seus ponteiros estão derretidos e trazem uma noção distorcida dos segundos.

Quando olhamos para os relógios, reconhecemos este objeto, porém, ele nos causa estranheza, pois está destituído do seu formato e uso convencionais. Essa estranheza gera uma reflexão sobre o próprio objeto e a sua função.

As formigas no relógio

formiga

O único relógio que não está deformado é o que está virado para baixo e tem formigas sobre ele. Salvador Dalí não gostava muito de formigas e esse insetos estão relacionados à putrefação nas suas obras. Isso mostra como o objeto cotidiano é desprezado por Dalí e pela vanguarda surrealista. Muitos acreditavam que a arte representativa estava decadente e que a fotografia havia tomado o lugar de uma pintura realista.

A pintura abstrata é uma forma de superar e de dar sentido para as artes plásticas. A saída encontrada foi deslocar o objeto, deformá-lo, buscar modos novos de representá-lo. Esse recurso, além de ser uma outra forma de representar o objeto, promove a meditação e a reflexão sobre coisas que passam despercebidas no nosso cotidiano.

O relógio é um objeto banal que todos já vimos e provavelmente usamos. Geralmente não prestamos muita atenção nele, mesmo que seja responsável por marcar, dar o passo do nosso dia e dos nossos compromissos. Quando Dalí transfigura o relógio, ele nos faz perceber como esse pequeno objeto tem uma importância tão grande em nossa vida.

O tempo real e o tempo do inconsciente

A memória é uma forma de marcar o tempo, uma forma interna e subjetiva. O tempo da memória não é o mesmo do relógio comum: um momento que passou há muito pode ser lembrado como algo recente, e o dia anterior pode parecer como algo que aconteceu anos atrás.

Caricatura do pintor

dali

Essa noção subjetiva do tempo é explorada por Dalí neste quadro. A própria figura do pintor aparece dormindo em baixo de um relógio derretido. O lugar do sonho, da vigília, é também um lugar onde a temporalidade assume outras realidades.

O tempo do quadro A Persistência da Memória não é o tempo real, e sim o tempo do inconsciente. Sabe-se que Dalí foi influenciado por algumas das teorias da psicanálise de Freud, segundo o qual “o sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente“.

A busca de Dalí pelo inconsciente está refletida no quadro pela sua caricatura que dorme. A temporalidade está em outro plano.

A paisagem e o resto do real

fundo

Em meio a todas as figurações e representações surreais, o quadro de Salvador Dalí nos apresenta ao fundo uma paisagem. Este horizonte ao fundo do quadro era a vista de sua casa em Barcelona. É a estrada do real, o que resta da realidade neste quadro onírico.

A obra também leva ao questionamento metalinguístico. Como a arte pode fazer parte da memória e não ser esquecida? E como isso leva o sujeito que produz a obra a procurar um pouco da imortalidade em seus quadros.

A Persistência da Memória é uma visão subjetiva da temporalidade e das suas implicações, seja na obra de arte ou nas lembranças. É também uma homenagem ao tempo interior e inconsciente, que tem sua própria forma de ser contado e que foge à racionalidade.

O inconsciente é matéria essencial para Salvador Dalí e sua atemporalidade está expressa na obras com o uso de relógios que derretem ao serem expostos à persistência da memória.

Fonte: Cultura Genial

 

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Autor:

Helô Gomes
Helô Gomes é bacharel em jornalismo, premiada nacionalmente com a obra "Cordel de Moda - arte e Cotidiano na feira de Caruaru"; cobriu as principais semanas de moda do circuito Nova York, Londres, Milão, Paris, Rio e São Paulo, publicou e apresentou pesquisas científicas a convite da USP em Dublin, Moscou, Budapeste e Cracóvia, é apaixonada por literatura e arte e no Coletivo Lírico expressa todo seu olhar sobre a moda em forma de objetos de consumo afetivos

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2 Comentários
  1. Avatar

    ASSIM COMO DALÍ, NO DIA EM PINTOU ESSA MARAVILHA, TAMBÉM ME ENCONTRO UM POUCO INDISPOSTO PRA TECER ALGO A MAIS DO QUE UM SIMPLES E QUE RESUME TODO O TRABALHO DE VCS.

    OS MEUS MAUS SINCEROS AHAZARAM :) :*

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